Aflição e Glória

“Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós, eterno peso de glória, acima de toda comparação.” (2Co. 4:17)

Gosto muito de viver. Mas confesso que esta loucura de incertezas que nos cercam me fascinam, mas também me apavoram.

Acordar de manhã e contemplar a beleza da serra dos orgãos, tendo como pano de fundo o infinito azul do céu ou, ao entardecer, ser surpreendido por aquela serração, característica da cidade, é algo sem preço.

O que dizer do sorriso das crianças, da motivação dos idosos, ou do abraço de um amigo mais chegado que um irmão? Enquanto escrevo ouço a melodia de passarinhos louvando ao Criador. Fico extasiado diante de tamanha grandeza e minha alma exclama: Quão grande és Tu!

Deus fez um mundo maravilhoso e uma vida fantástica, mas a escolha do homem pelo pecado (Gn 3), não só maculou esta beleza, mas fez toda esta harmonia entrar em caos.

E nossa vida, cercada de coisas lindas, é também cercada de coisas que nos ferem.

Por que o sofrimento insiste tanto em nos acompanhar? O nó agarrado na garganta, as lágrimas marejando os olhos, o aperto profundo no peito causado pela dor, perda ou desilusão… Quem nunca experimentou o vazio de uma oração não respondida ou de um adeus não desejado?

Quando ainda era um menino, orei desesperado para que Deus ressuscitasse um pintinho, que tinha dado um pulo suicida em minha piscina e se afogado. Lembro de ter a impressão de ouvir o seu pio tempos depois daquele dia fatídico. Não conseguia entender por que Deus havia permitido aquilo. Por que Ele não interveio? E mesmo depois da tragédia, por que Ele não o trouxe a vida de novo?

Cresci e continuo com as mesmas dúvidas. Não entendo porque uns são curados e outros não. Porque uns tem grandes livramentos e outros passam por terríveis tragédias. Mas como Jó, sei que questiono coisas maravilhosas demais para mim, coisas que eu não conheço (Jó 42:3b).

No meio dos meus questionamentos e lamúrias a Espada do Espírito penetra em minha alma, não para me dar uma resposta, mas para me dar esperança: “Porque para mim, tenho por certo que as aflições do tempo presente não podem ser comparadas com a glória que em nós há de ser revelada”.

Imagino o apóstolo Paulo lembrando de cada chicotada que levou, cada pedrada, cada prisão e perseguição que passou e do outro lado pensava nas coisas que ele viu e ouviu, aos quais ele nem podia falar (2Cor 12:4). Ao colocar os dois na balança fazia com que todos os revezes se tornassem uma leve e momentânea tribulação (2Cor 4:16-18).

E se ele, que sofreu tanto por Cristo, se satisfez com a glória futura, eu, que só tenho umas dúvidas e decepções, estou feliz em saber que um dia toda lágrima será transformada em eterna alegria (Ap. 21:4) e todas as dúvidas desvanecerão ante a presença do meu Senhor.

“Senhor, Tu me sondas e me conheces.” (Sl 139:1)