Entre o poder e a autoridade

No Evangelho segundo Lucas, em seu capítulo quarto, encontramos um dos mais curiosos acontecimentos registrados pela Bíblia. Ali, Jesus é levado ao deserto pelo Espírito Santo e após 40 dias de jejum é tentado pelo diabo. Assim como outrora havia acontecido com Eva, Satanás oferece ao Salvador o objeto de fascínio de todo ser humano: PODER.

Note, em primeiro lugar o diabo diz: “Se és o Filho de Deus, manda que esta pedra se transforme em pão”. Satanás evidentemente conhecia o grande poder que Cristo como Deus possuía, e então oferece a Ele, o carpinteiro filho de José, a oportunidade para demonstrar e usufruir desse mesmo poder. Em segundo lugar a proposta do diabo muda, porém a intenção não, observe: “Aí o Diabo levou Jesus para o alto, mostrou-lhe num instante todos os reinos do mundo e disse-lhe o diabo: Dar-te-ei a ti todo este poder e a sua glória, porque a mim me foi entregue, e dou-o a quem quero”. E por último: “Levou-o também a Jerusalém, e pô-lo sobre o pináculo do templo, e disse-lhe: Se tu és o Filho de Deus, lança-te daqui abaixo, porque está escrito: Mandará aos seus anjos, acerca de ti, que te guardem que te sustenham nas mãos, para que nunca tropeces com o teu pé em alguma pedra”.

Não é difícil entender que, pelo deslumbramento do “poder”, muitas pessoas têm cedido às tentações, no entanto, gostaria de chamar a sua atenção, caro leitor, para algo intrínseco em toda narrativa bíblica: o poder não existe para usufruto do homem.

Mas para entendermos melhor se faz necessário diferenciar “poder” de “autoridade”, visto que comumente confundimos estes dois termos.

Poder, segundo o dicionário Michaelis é: “faculdade de quem comanda, governa”; enquanto que autoridade é definida como: “habilidade de quem influencia”. Note que poder é descrito como faculdade enquanto autoridade é uma habilidade.

Entendendo bem estes termos, compreendemos o porquê de Cristo não ter cedido à tentação do diabo. Certa vez o próprio Senhor Jesus disse que havia vindo ao mundo com o propósito de servir e não ser servido, que sua intenção era mostrar “o caminho” e não impor o caminho. Em toda sua vida terrena, Jesus não utilizou de poder, apesar de ser o Todo-poderoso, pelo contrário, sua marca foi a habilidade com que influenciava vidas, coisa que até hoje faz. Jesus convidou os doze a segui-lo, e atendendo à sua autoridade foi que os discípulos entenderam que isso era o melhor a fazer.

Caro(a) irmão(ã), estas duas palavrinhas têm feito toda a diferença na vida da igreja atualmente. Crentes imbuídos de poder têm determinado suas posições impondo seu ponto de vista a quem o cerca. Vejo crentes que com todo o poder de “pai”, impõem a seus filhos a ordem de ir à congregação, não importando com as opiniões desses mesmos filhos. Vejo crentes que, assim como fazem com seus filhos, fazem também com outros descrentes determinando o caminho e não convidando a seguir o caminho como o próprio Cristo fez. É uma pena! Líderes têm enfraquecido suas igrejas agindo dessa forma, e tudo isso por não entenderem que nenhum ser humano foi criado para estar debaixo do poder de ninguém a não ser do próprio Deus. Devemos estar sim, sob as autoridades, mas não sob o poder.

Ninguém aceita ser obrigado a alguma coisa, e mesmo que aceite há de se rebelar um dia. É necessário entendermos que devemos influenciar com nossa atitude e não impor com nossa grossa voz.

Numa empresa, apesar de serem donos do poder, muitos patrões não têm usufruído de autoridade para com os seus comandados. O poder pode ser comprado, a autoridade é conquistada. A autoridade influencia, o poder cria barreiras.

“Ora, para que saibais que o Filho do Homem tem sobre a terra autoridade para perdoar pecados…” (Marcos 2:10). Jesus utilizou de poder ao ser concebido por uma virgem, mas utilizou de autoridade para morrer na cruz disseminando o perdão de pecados.

Como você tem agido? Com poder ou autoridade? Não se deixe enganar, o poder pertence a Deus, a nós foi dado o dever de influenciar e a habilidade de ser autoridade. “Porquanto os ensinava com autoridade e não como os escribas” (Mateus 7:29).

Uma habilidade pode ser desenvolvida e é isso que acontece com a autoridade, você pode desenvolvê-la, pode tornar-se hábil em influenciar, basta acreditar nisso e agir dessa forma. Todos os pais crentes podem ver seus filhos convertendo-se, basta entender que é necessário agir com autoridade e não poder. Nossos parentes e vizinhos podem escolher seguir o único e verdadeiro caminho, nossos amigos do trabalho podem escolher deixar os vícios, nossa igreja pode escolher o desenvolvimento do corpo de Cristo, basta influenciarmos, basta sermos gentis sempre, basta aplicarmos o amor que tanto nos envolve, basta esquecermos do poder e considerarmos cada irmão maior que nós.

Creia! Podemos!

O mercado de trabalho tem procurado por líderes que entenderam isso. Uma grande empresa não quer mais aquele que saiba mandar e impor, mas aquele que saiba influenciar cada comandado a fazer o seu trabalho de forma voluntária e não obrigada. Não seria exatamente isso que nossas igrejas precisam? Se a sua resposta é sim, comece agora, torne-se um paradigma a ser seguido e que Deus o abençoe!