Procura-se um amigo fiel

A reunião foi marcada para as 8:30 da noite. Estávamos revisando a pauta da reunião a fim de não deixar nenhum assunto pendente para outra ocasião. Então repassamos todos os itens. À medida que a reunião prosseguia, os assuntos iam se exaurindo. A secretária, uma dedicada senhora, bem posta, seguia e marcava cada um deles. Restava apenas um item. Parecia um assunto simples de resolver. Mas não foi isso que aconteceu! Precisávamos obter consenso neste quesito, era extremamente necessário. O que felizmente não ocorreu! Nem todos presentes pensavam da mesma forma. Faltava o voto dele – “o do contra”. Ele saiu do comum. Pensou diferente e, viu que estávamos em direção oposta. Das trinta e cinco pessoas presentes na reunião, ele votou contra. Ficamos aparentemente surpresos, e alguns até magoados devido o desenrolar do tema. Mas no final, para surpresa de todos e bastante explicação daquele votou no NÃO, vimos que realmente era plausível repensarmos. Um único voto, foi o suficiente para evitar uma desastrosa
decisão. Pode até ser que em outras ocasiões o voto contrário à maioria não vingue, seja o voto de “minerva”. Contudo, quero enfatizar a necessidade de valorizarmos sempre todas as opiniões, sejam favoráveis ou não, seguindo o curso de todos ou não. Saibam que “Mentes criativas são conhecidas por sobreviver a qualquer tipo de mau aprendizado”. (Ana Freud).

Foi assim que começou surgir na minha cabeça essa idéia de procurar uma pessoa que pense diferente. Procura-se um amigo. “Quando todos pensam da mesma maneira, ninguém pensa grande coisa” (Carl Sandberg). Às vezes tenho a impressão que nunca estarei preparado para delinear novos planos e seguir novos caminhos, sem a pressão do inesperado. Sinto que posso errar. Isso me deixa extremamente tenso. Com a possibilidade de estragar tudo, colocar tudo a perder e, conseqüentemente, ter que colher frutos amargos, frutos das minhas decisões. Entretanto, analiso essa pressão psicológica, como sendo salutar e favorável ao desenvolvimento de um equilíbrio emocional e maturidade.

O receio do erro alerta a alma e rasga o ego que infla todas as vezes que tomamos decisões na vida, principalmente quando dão sempre certo. Portanto, quero e preciso, procuro um amigo para os momentos oportunos, para refrear esses impulsos de soberba e vanglória. Procuro um amigo. Esse amigo pode ser você. Então, me escreva, me fale, me ligue de vez em quando, quando perceber algo estranho em minha vida, em meus excessos de confiança, me chame atenção, ligue o alerta. “O óleo e o perfume alegram o coração; assim o faz a doçura do amigo pelo conselho cordial.” (Pv 27:9). Eu não quero aceitar o falso como verdadeiro ou me acomodar em divagações, sem tentar nada. Hoje, neste multimundo, fazer parte do grupo dos omissos é de doer a alma. “Quem é, pois, o servo fiel e sensato, a quem seu senhor encarrega dos de casa para lhes dar alimento no tempo devido? Feliz o servo que seu senhor encontrar fazendo assim quando voltar” Mt 24:45,46. Portanto, amigo, isto posto, quero lhe dar minha procuração com renovação
automática. Amigo, pode até ser que estaremos em lugares diferentes às vezes, mas em outros quero sua presença. Seria fundamental compartilharmos juntos. Então, fica comigo. “E falava o SENHOR a Moisés face a face, como qualquer fala com o seu amigo; depois tornava-se ao arraial; mas o seu servidor, o jovem Josué, filho de Num, nunca se apartava do meio da tenda.” (Êx 33:11).

E finalmente, quero concluir com a frase Fernando Sabino: “De tudo ficam três coisas: a certeza de que estamos sempre começando; a certeza de que é preciso continuar; e a certeza de que podemos ser interrompidos antes de terminarmos. Fazer da interrupção um caminho novo, da queda um passo de dança, do medo uma escada, do sonho uma ponte, da procura um encontro.”