Saudades do Pedro

Em princípio não gostei dele, ele me parecia metido, arrogante, orgulhoso, falava muito, chamava a atenção para si, discordava sempre e de quase tudo. Era um caso quase que perdido.

Teve a sorte de ser encontrado por Jesus e, acreditem, Jesus gostou dele. Chamou para ser um de seus obreiros e tornaram-se amigos. Amigos chegados.
Não é isso que Jesus sempre faz? Não seleciona seus amigos com critérios objetivos e com um coração do tamanho do mundo. Abraça a todos, almoça com todos, conversa com prostitutas, libera um tal de Barrabás… bandido.

Penso que a conquista acontecia no primeiro encontro. Ele tinha um olhar irresistível, falava com uma ternura impactante e uma autoridade tão grande que não precisava de um discurso muito longo, ele apenas dizia: segue-me, e era seguido.

Isso ficou marcado no coração de Pedro e ele nunca esqueceu as lições de amor ensinadas por aquele que veio a ser seu mestre.

Como eu disse no início, ele não era uma boa figura, e em pouco tempo demonstrou quem realmente era. Deixou o amigo sozinho, negou, traiu, fugiu, acovardou.

Então, tenho ainda mais razões pra não gostar de Pedro, até o momento em que o descubro escondido entre as pilastras do pátio envergonhado, com os olhos vermelhos e um choro compulsivo. Dá pra notar a angústia dele quando perguntaram-lhe: “o que há contigo?”. Ao que responde, soluçando: – Ele me avisou. E agora? Como posso viver inimigo de meu mestre?

Naquele momento tive minha alma derretida porque vi um homem que sabia se arrepender, ouvi um coração cheio de amor, arrependido, gritando como que pedindo pro seu grande amor voltar. E ele voltou.

Estavam voltando da pescaria, Pedro e alguns amigos, quando encontram com Jesus. Escutem o coração acelerando, observem que olhar assustado, toquem em suas mãos e vejam como estão geladas! É a emoção do reencontro!

O estrondante silêncio da potente voz suave se ouve: “Pedro, tu me amas?”
Chegou a hora do coração falar. Pedro poderia ter pensado que de nada mais adiantaria amá-lo, que qualquer resposta seria como nada.

Mas outra vez ele questiona: “Tu me amas?”

Lágrimas, vergonha, arrependimento e esperança se misturam nessa hora.
Então pela terceira vez Jesus indaga: “Tu me amas de verdade?”

De cabeça baixa e olhos meio abertos e voz embargada, ele sussura: “Olhe-me com os olhos do teu coração, por favor! E veja que apesar das manchas que eu pintei no meu passado, EU TE AMO!”

Foi o suficiente para fazer estender sobre o passado vergonhoso as tendas da graça e do amor infindo, que ultrapassam as raias da compreensão humana, atingindo qualquer coração que se abra em sinceridade na busca de perdão.

Sabe que agora sinto saudades de Pedro? Queria que me contasse sua sensação quando recebeu o perdão imerecido, gostaria que descrevesse os traços do rosto do nazareno enquanto curava seu coração rasgado, pediria que me contasse detalhes do diálogo que não foram descritos no evangelho.

E faria um apelo dizendo: Pedro, me ensina a levantar de cada queda e a não ter vergonha de pedir perdão quando precisar, por favor!