Não consigo chorar!

Não consigo chorar!

Minhas lágrimas secaram.
Meus olhos estão como um deserto.

Não chorei pelas milhares de vidas que se perderam na Ásia, por causa da tsunami.

Não chorei pela morte brutal do menino João Hélio, de seis anos de idade.

Não choro, diariamente, pelas centenas de pessoas vítimas de balas perdidas no Rio de Janeiro, nem pelos ônibus incendiados lotados de passageiros.

Nem vendo pessoas desesperadas, carregando corpos ensangüentados e mutilados pelas explosões diárias no Iraque, consigo verter uma lágrima.

Sinto-me insensível, indiferente à violência e ao sofrimento alheio.
Sinto inveja de minha esposa, quando vejo que seus olhos estão marejados, porque ela viu na TV mais uma criança recém-nascida, abandonada pela mãe num saco de lixo.
Fico indignado, mas não choro.

Chorar faz bem, pois mostra nossa fragilidade e também nossa humanidade.
Jesus chorou, o apóstolo Paulo chorou, o apóstolo Pedro chorou, os profetas choraram.
Mas eu não consigo chorar.
Minhas lágrimas ficaram na memória, mas insistem em não descer para meus olhos.
Mesmo lembrando de assuntos tristes, elas não vieram.

Não estou sozinho.
Eu sei que há muitas pessoas, que assim como eu, não conseguem chorar com os que choram.

Que Deus me perdoe por ser tão insensível.