Demônios do Templo (4)

Leia antes:
Demônios do Templo (1)
Demônios do Templo (2)
Demônios do Templo (3)

Prezados irmãos, perdoem-me a narrativa tão dramática (não gosto do gênero narrativo) e rebuscada. Romanceei para vocês uma história que um grande professor de Neonatologia contou certa vez. Ele falava da importância dos pais terem uma ideação adequada do filho e o quão importante é para o médico estar sensível a isto. Este caso isoladamente trouxe o ensinamento que nem sempre aquilo que idealizamos consegue ser remendado. Às vezes é preciso matar o idealizado para permitir-se formar um ideal novo, reformulado.

Tim Stafford escreveu Deixe Deus, e não a sua consciência, ser o guia[1]. Os bípedes[2] somos seres que temos a habilidade da imaginação. A ideação ocorre na nossa cabeça sempre que precisamos traçar uma estratégia para enfrentar uma situação a curto, médio ou longo prazo. Muitas pessoas sofrem quando idealizam possibilidades que cujo conteúdo prevê dor e um caminho difícil. Outros ganham na ideação um auxílio para encontrar forças para trabalhar hoje (p.e. como se faz ao sair do aluguel para entrar em um financiamento pensando em garantir segurança patrimonial).

Acompanhe este trecho de Tim Stafford[3]:

    Uma velha história resume essa mensagem melhor que qualquer outra que conheço. Ela fala de um homem que se envolveu em um padrão de comportamento pecaminoso a ponto de não mais se importar com suas conseqüências. Quantas vezes ele confessou esse pecado desprezível a Deus, prometendo que nunca mais o repetiria? E agora, lá está ele novamente, confessando a mesma coisa:
    — Senhor, estou morrendo de vergonha. Tenho feito essa mesma coisa vez após outra. Eu a confesso a ti e prometo que nunca mais farei isso de novo. Por favor, me perdoe.
    Do céu chegam as seguintes palavras:
    — Eu o perdôo. Tudo está esquecido. Você está purificado para começar de novo.
    O homem sente-se maravilhosamente livre. Deus o perdoou. (…) Durante toda a tarde ele celebra a crença de que nunca mais reincidirá nesse pecado. E então, naquel a mesma noite, a tentação acontece e ele fracassa.(…)
    Bem, ele mal consegue orar(…)
    — Deus, estou tão constrangido que mal posso falar contigo. Fiz aquilo de novo.
    — Fez o que?
    — Aquele pecado. Conversamos sobre ele hoje de manhã.
    — Engraçado. Não me lembro de pecado nenhum.

Perdemos muito tempo da nossa vida tentando remendar planos que deram errado. Mesmo quando planejamos algo nobre ou até mesmo espiritual e nosso plano toma outros rumos precisamos entender que Deus está no controle de todas as coisas. Em nossa consciência humana caída, a frustração conduz à culpa que alimenta ainda mais a frustração e acaba por paralisar o indivíduo em um ciclo frustração-culpa. Confiar em nossa consciência para determinar o que é certo e errado é confiar em algo apodrecido pelo pecado. Precisamos ter um padrão de pureza.

Chamado a retratar-se de suas idéias, o Reformador Lutero declarou o seguinte: “A menos que eu seja convencido pelas Escrituras e pela razão pura e já que não aceito a autoridade do papa e dos concílios, pois eles se contradizem mutuamente, minha consciência é cativa da Palavra de Deus. Eu não posso e não vou me retratar de nada, pois não é seguro nem certo ir contra a consciência. Deus me ajude. Amém” (grifos meus). Observe que ele alia as Escrituras e a razão para produzir o que ele denomina consciência. Penso que Lutero não pretendia seguir sua própria consciência natural, mas a nova consciência — confrontando a falsa culpa e tentando absorver padrões bíblicos de certo e errado. Nossa consciência não é a voz de Deus. É uma resposta emocional que Deus plantou em nosso funcionamento psíquico. Lutero era pecador e sabia disso. Tentou encontrar alívio para sua culpa no pagamento de indulgência. Encontrou frustração, apesar de ter obtido um papel com um título de perdão pelos pecados. Sua consciência encontrou paz quando fez-se cativo, um escravo da Palavra de Deus.

1João 3:18-20: “Filhinhos, não amemos de palavra nem de boca, mas em ação e em verdade. Assim saberemos que somos da verdade; e tranqüilizaremos o nosso coração diante dele quando o nosso coração nos condenar. Porque Deus é maior do que o nosso coração e sabe todas as coisas.”

Prezado irmão, quero convidá-lo a um breve momento de introspecção. Às vezes me pego lembrando dos planos que eu fiz e que deram certo. Quantas programações na igreja eu elaborei, ajudei, coordenei… Quantas pessoas foram atingidas… Aí me lembro que estou usurpando a Glória que é do Senhor. O que eu estou fazendo ocupando o centro dos meus pensamentos? Noutras ocasiões fico idealizando como seria se repetisse esse ou aquele plano… funcionou no passado, pode funcionar de novo… e esqueço que o Senhor faz novas todas as coisas e quem faz dar certo ou não é Ele. Ainda os momentos quando os pecados do passado vêm assombrar nosso coração colocando em dúvida o perdão do Senhor. Por fim, quando a nossa mente nos assalta nos prendendo em uma constante introspecção, nos impede de seguir pensando, planejando e submetendo nossa mente à Vontade Soberana do Senhor.

Notas:

[1] Desventuras da Vida Cristã. Mundo Cristão. [2] Termo irônico pelo qual o filósofo Arthur Shopenhauer chamava os humanos [3] Desventuras da Vida Cristã. Mundo Cristão, p.59