— Doutor!
— Oi! Está sentindo alguma coisa, minha querida?
— Cansaço. Doutor!
— Oi. A senhora gostaria de me dizer alguma coisa?
— Quando a gente morre, vai pro céu e… lá é perto da casa da gente?
— … É.
— E eu vou pra casa até o fim de semana?
— … Sim.
Assim foi a minha conversa com esta senhora bastante idosa, portadora de câncer com disseminação para vários de seus sistemas orgânicos. Eu havia cuidado dela durante os dias do carnaval passado. Ela apresentava uma falta de ar importante, uma caquexia e fraqueza indizíveis. A doença a havia consumido quase que por completo.
Agora ela estava no CTI, com um quadro de complicação severo do seu caso, deitada em uma cama à parte dos outros leitos. Neste lugar habitualmente ficam os pacientes de alto risco. O lugar é frio. Há aparelhos ligados fazendo barulhos eletrônicos por onde quer que se vire para olhar. E ela está lá. Frágil, totalmente dependente dos serviços que a mantêm viva. Seu corpo já não funciona bem. Sua voz de tão fraca, agora soa como o sussurro do vento pela fresta da janela. É apenas um murmúrio…
Ela entendeu exatamente o que eu disse quando ela me perguntou se iria para casa até o fim de semana. Seus olhos se encheram de lágrimas. Quase não me contive também. Fiz-me forte, porém, o suficiente para dizer-lhe: “Não fique com medo. Quando a senhora for para casa todo o sofrimento terá ficado para trás!”.
Naquele momento eu não poderia falar outra coisa para a dona Ana (seu nome verdadeiro será preservado) senão isto. E intercedi a Deus naquele pequeno instante. Eu pedi ao Senhor que se revelasse àquela senhora tão frágil ali naquele leito solitário. Bem na clausura do seu sofrimento. E tenho certeza que Ele o fez. Não sei se encontrarei a dona Ana quando estiver no céu, porque cabe a ela, enquanto criatura, reconciliar-se com seu Criador para a sua Salvação eterna, porém estou certo de que Deus não deixou de manifestar-se a ela de maneira viva e presente naquele momento.
As vezes Deus é conhecido através de uma brisa suave. Mas há momentos em que a sua presença só é notada em meio grande tempestade. Quase não vi dona Ana aquela noite. Mas Deus não permitiu que o QUASE acontecesse, pois Ele tinha um propósito para mim e para ela naquela noite.
“Como águas profundas, são os propósitos do coração do homem, mas o homem de inteligência sabe descobri-los.”[1] “Muitos propósitos há no coração do homem, mas o desígnio do SENHOR permanecerá.”[2] “Quem sabe dos meus planos sobre vocês sou eu mesmo! São planos de bem; não são planos de sofrimento. Eu lhes darei aquilo que mais desejam: um futuro de paz em sua própria terra”[3] “Muito antes de criar o mundo, Deus nos escolheu para lhe pertencermos, por meio do que Cristo faria por nós; naquela época Ele decidiu fazer-nos santos aos seus olhos, sem uma única falta – a nós, que nos encontramos diante dEle cobertos como Seu amor. Seu plano imutável sempre foi adotar-nos em sua própria família, pelo envio de Jesus Cristo para morrer por nós. E Ele fez isto porque quis!”[4]
Notas:
[1] Provérbios 20:5 [2] Provérbios 19:21 [3] Jeremias 29:11 (BV) [4] Efésios 1:4-5 (BV) BV: Bíblia Viva
