Quando prevenir é melhor que remediar

Este fato ocorreu durante meu estágio em medicina comunitária. Uma senhora procurou atendimento pela manhã. Não me lembro muito bem qual era sua queixa. Lembro-me, contudo que a consulta transcorreu normalmente. Não era nada de grave. Realizada propedêutica indicada, despedimo-nos da senhora.

No dia seguinte, logo no início do expediente, lá estava novamente a mesma senhora assentada junto à porta do consultório onde foi atendida. Quando a vi, pensei: `Será que alguma coisa saiu de errado?` Disse, então, à minha colega: `tua paciente está aqui fora e quer falar com você`. Qual foi minha surpresa ao ver a atitude da paciente – ela não disse muita coisa, apenas limitou-se a colocar no bolso do jaleco da minha colega um papel cuidadosamente dobrado e partiu. Não compreendemos nada. Minutos depois, já dentro do consultório lemos o gentil bilhete em que a Dona Marta nos agradecia pela atenção que lhe dispensamos.

Não foi a primeira vez que vi atitude assim. Há alguns meses fui presenteado com ma galinha caipira, um queijo minas e um doce por um paciente portador de câncer de pulmão em estado avançado de quem estava cuidando. Ele queria expressar sua gratidão pela assistência que estava recebendo e pela maneira que estava sendo tratado. É pouco freqüente, porém justificável, que alguém que passe por um momento muito difícil seja grato às pessoas que lhe dediquem algum interesse.

No caso de D. Marta, porém, o inusitado foi a gratidão a partir de uma pessoa por quem pouco se fez. Em medicina comunitária, muito se valoriza à prevenção de doenças, por isso mesmo, é incomum o contato com doenças em estado avançado. A maioria dos atendimentos são de nível primário – na tentativa de prevenir as complicações.

Gratidão é uma atitude que parte do coração do receptor. Nem sempre, contudo, estamos dispostos a agradecer, a não ser quando alguém faz algo por nós pelo simples prazer de fazê-lo. Achamos que não precisamos agradecer às pessoas pelas coisas que elas deveriam fazer, afinal era sua obrigação fazê-lo.

Diante de Deus, porém, a coisa é um pouco diferente. “…Aquele a quem foi perdoado pouco, demonstra pouco amor.”[1] Insistimos em fazer o que Lhe desagrada. Insistimos em repetir os mesmos erros. Insistimos em achar que o pecado é somente uma invenção humana, quando quem nos chama de pecadores é o próprio Deus – “O Senhor diz: “Esse povo ora a mim com a boca e me louva com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. A religião que eles praticam não passa de doutrinas e ensinamentos humanos que eles só sabem repetir de cor.”[2] Insistimos em achar que não precisamos do amor escandalosamente puro e genuíno que Deus diz ter por nós, não obstante toda nossa insignificância.

Compreendi que todo o perdão que Deus me dá é muito. Não existe um `perdãozinho`, assim como não existe um pecadinho. A gente crê em Jesus, tem os pecados lavados pelo sangue de Jesus e acha que cada pecado é uma mera manchinha em nossa vestidura branca. Não. Cada novo pecar é como se sujássemos nossa veste por inteiro. É por isso que o apóstolo João recomenda que constantemente confessemos nossos pecados a Deus com arrependimento – “Mas, se confessarmos os nossos pecados a Deus, ele cumprirá a sua promessa e fará o que é certo: Ele perdoará os nossos pecados e nos limpará de toda maldade.”[3] – porque Ele está pronto a perdoar. Não deixamos de estar com vestiduras brancas, porque as adquirimos pelo favor que Jesus nos fez na cruz. Estas vestiduras representam a Vida Nova que Jesus dá àqueles que entregam suas Vidas Velhas à Ele. Ninguém pode nos tirar o que Deus nos deu. Mas nós mesmos podemos sujar e macular este presente. Portanto, cada vez que confesso meus pecados e me arrependo, Deus opera em mim uma grande obra. Ele me lava por completo.

Jesus disse “Por isso, te digo: perdoados lhe são os seus muitos pecados, porque ela muito amou; mas aquele a quem pouco se perdoa, pouco ama.”[4] Preciso ser mais grato ao Senhor. Assim como D. Marta, preciso chegar-me a Deus dizendo: `Senhor, obrigado pela atenção que o Senhor dispensa a mim. A mim, que tantas coisas ruins tem feito contra o Senhor. Cada vez que sou perdoado, tu operas em mim grande obra. Por isso, Senhor, meu coração é muito grato a Ti. Quero manifestar minha gratidão em meus atos hodiernos, em meu humor, em minha maneira de ver os problemas e provações. Quero escravizar-me em ações de gratidão a Ti – estar disposto a permanecer diante do Teu trono dia-a-dia e pelos séculos dos séculos dizendo: Glória, honra e louvor pertence ao que é digno, o Cordeiro Santo de Deus, Jesus Cristo.”

Notas:

ERAB: Edição Revista e Atualizada do Brasil BLH: Bíblia na Linguagem de Hoje