Paradoxo do medo

“Em verdade temos medo. Nascemos escuros. As existências são poucas: Carteiro, ditador, soldado. Nosso destino, incompleto.” (Carlos Drummond de Andrade)

“Ah, se eu soubesse onde o poderia achar! Então me chegaria ao seu tribunal. Eis que se me adianto, ali não está; se torno para trás, não o percebo. Se opera à esquerda, não o vejo; se se encobre à direita, não o diviso.” (Jó 23:3,8,9).

O livro dos códigos (Deuteronômio) diz que o temor do Senhor é o caminho que pavimenta Sua direção (Dt 6:2). Salomão também disse: “o temor do Senhor é o princípio da sabedoria”. É interessante notar por que esse método divino de interação causava pavor. O povo clamava por uma visitação e no mesmo instante sentia-se atemorizado por uma demonstração de poder. “E os discípulos, ouvindo isto, caíram sobre os seus rostos, e tiveram grande medo.” (Mateus 17:6). O povo sentiu temor no Sinai. (Êx 19:16). No evangelho de Lucas a palavra tem sua origem da raiz fugir. (Lucas 1:28). O apostolo Paulo admite que passou por “Lutas por fora temores por dentro” (2Co 7.5).

Parece paradoxo o modo do ser humano interagir com Deus. O homem revela verdades que inquietam, devido ao vazio existencial e à ausências de respostas, percorre, às vezes, uma escuridão infinita, até chegar a algum lugar. Não tenho certeza se esta busca estimula o instinto de sobrevivência. Principalmente o inacessível – que não tem acesso. Mas acredito que, isto sim, por não conhecer, lhe causa medo. De fato, concordo com idéia do psicólogo W. F. Bion quando disse “Amor, ódio e conhecimento são elementos que formam a trama em que se funda toda experiência”.

A igreja deve gerar pessoas que aprendam a caminhar com nossas ambigüidades. Com as sombras evidenciadas de nosso caráter, assim como o nosso brilho do testemunho fiel. Jesus impele-nos, fielmente, a buscar uma vida com o Pai, pois Ele não é indiferente às nossas dificuldades de ir além desde mundo visível. Visto que em meio ao medo, Ele rompeu o mundo visível e veio até nós por amor. (Jo 3:16) e conhecendo-O, confiamos. “Ainda que eu caminhe por um vale tenebroso, nenhum mal temerei, pois estás junto a mim;… ” (Sl 23).

Todos os dias, permaneça quieto diante de Deus, em meditação, e peça ao Espírito Santo que lhe revele a verdade da presença de Cristo em você. Roque a Deus que Se agrade em mostrar-lhe qual é a gloriosa riqueza desse mistério (Cl 1.27).