O rapel espinhoso

Muita gente a passar, a me deixar pra trás com meus anseios de poder ver o que a multidão escondia. Muitos obstáculos a vencer, o povo não gosta de mim, não sou digno de receber nada que faça dos meus sonhos realidades palpáveis. O que eu tenho pra oferecer? No alto do meu metro e meio, uma fama mais alta do que eu me perseguia, só o radicalismo me fará ver o que eu quero. Já sei, vou fazer um rapel. Não é lá muito confortável, mas algo me diz que nessa multidão vem a minha salvação, a única chance de Deus me aceitar com minha pequenez aparente. Ai, ai, é espinhoso demais, mas se eu não subir aqui, talvez nunca mais suba em lugar algum.

Estou vendo agora, mas também muita gente olha pra mim com cara de: “saia daí, ladrão”. Mas a covicção é mais forte do que os olhos do povo. “Meu Deus, são muitas pessoas seguindo um rabi, o que faço? Subo mais e arrisco-me a sair todo esgulepado, ou cedo às pressões do mundo e desço daqui pra felicidade de todo Israel?

Alguém gritou lá debaixo:” É Jesus o nome dele”. Jesus? O Messias, que os meus pais recitavam como que esperando um rei coberto de ouro, todo sábado na sinagoga, estava ali do meu lado. Eu cri, e depois que reconheci, em cima daquela figueira espinhosa onde fiz um rapel pra vê-lo, Ele, o Homem, me chamou. Não sabia onde pôr os olhos, nem o que fazer com o meu corpo abalado pela presença do Cristo.

Eu, como muitos, mudei de vida depois daquela visita, e nunca mais esquecerei o quanto é bom se esfolar, espinhar, fazer um rapel numa figueira pra ver meu salvador.

Zaqueu