É tempo de restaurar

Ele começou sua vida espiritual demonstrando uma ascensão incrível. Por amor a Cristo abandonou até mesmo sua profissão. Não havia lugar distante demais, nem hora inoportuna. Sempre que precisassem dele para uma visita ou para algum trabalho braçal, ele estava disposto.

Com o passar do tempo, começou a demonstrar fraquezas. Percebia-se, por exemplo, que este crente queria ser maior que os demais. Era sempre o primeiro a responder alguma pergunta de ordem teológica, ora acertadamente, ora errado, mas respondia. Como gostava de corrigir os outros! Certa vez chamou até mesmo o seu pastor em reservado para dar-lhe uma repreensão.

Era vítima de seus impulsos naturais, e ao que parecia, Jesus Cristo não o havia transformado por completo em uma nova criatura. Certa vez se envolveu em um escândalo, agredindo um incrédulo e acreditem, por muito pouco, não matou seu oponente.

Por fim, como já era esperado, saiu da igreja “abandonando” a fé e voltou a fazer exatamente as coisas que fazia antes de sua conversão. No dia de registrar sua disciplina, a igreja parecia respirar aliviada. Um dos líderes da igreja, mesmo sem lembrar a citação, levantou-se e disse: “O cão voltou ao seu próprio vômito; e a porca lavada voltou a revolver-se na lama”. Pois bem, a reunião foi encerrada, aquele membro disciplinado, e nunca mais se ouviu falar no nome dele. Aliás, só para constar, o nome dele era Pedro.

Meu irmão, um arrepio percorre o meu corpo só de pensar no que seria do apóstolo Pedro se ele fosse membro de uma das nossas igrejas. Muito provavelmente seria apenas um nome a mais no livro dos excluídos. Mas vejamos como o nosso Mestre tratou deste caso em João 21 (sugiro a leitura deste capítulo):

1 – VÁ A PROCURA: Infelizmente, apesar de pregarmos o contrário, agimos com o crente afastado como se ele não pudesse ser perdoado. Em um dia somos amigos, conversamos, sorrimos. No dia seguinte, após sua disciplina, ignoramos, fugimos dele por entre os corredores do templo. E o que é pior, excluímos da nossa agenda o nome deste membro.

Sempre que visito uma pessoa afastada da comunhão, quase sempre, a primeira reclamação que ouço é: desde que fui disciplinado nunca recebi uma visita. Quando o Senhor Jesus percebeu a ausência de Pedro foi encontrá-lo lá onde ele estava. Jesus era o ofendido direto, pois Pedro o havia negado, porém, o pastor saiu à procura da ovelha ao invés de esperar o contrário.

2 – USE A PERCEPÇÃO: Jesus Cristo encontrou um Pedro desanimado, derrotado, cansado e, acima de tudo, faminto. Antes de qualquer conversa, o Mestre preparou um jantar. Muitas vezes, ao suprir as necessidades físicas de um crente, mesmo que ele esteja afastado, a igreja está lhe revelando amor, mostrando que ele tem importância para Deus e para seu povo.

3 – SENSIBILIDADE: Finalmente chegou a hora mais difícil da vida de Pedro. Ter que olhar no rosto de Jesus a quem ele negara. Pedro provavelmente esperava uma dura correção, coisas do tipo: “Eu te avisei, Pedro. Como você teve coragem de fazer isto comigo?”. Mas ao invés disso, ele ouve as palavras: “Pedro, tu me amas?”. E ainda mais surpreendente: “Apascenta as minhas ovelhas”. Até parecia ironia que Jesus estivesse dando nas mãos de Pedro, um “fracassado”, o ministério pastoral. Mas Jesus foi sensível à dor do discípulo, focalizou em suas virtudes e no poder de liderança que Pedro exercia. É lamentável que quando vamos visitar um membro afastado, vamos tão focados no fracasso dele que nos esquecemos de suas virtudes.

4 – SAIBA OUVIR: Já participei de visitas para restaurar alguém que acabaram afastando ainda mais o visitado. Às vezes, saímos de casa com nosso sermão preparado, temos escrituras fortes, onde Deus promete punir os filhos do crente desviado, coisas do tipo: se não vier pelo amor virá pela dor. Isto acaba comprometendo a nossa percepção e a nossa sensibilidade.

Jesus ouviu Pedro, e isso era tudo o que Pedro precisava. Uma oportunidade para olhar no rosto de Cristo, enquanto suas lágrimas inundavam seus olhos, e dizer: “Senhor, tu sabes tudo. Sabes que eu te amo”. Pronto, o desabafo estava feito, as lembranças apagadas, e o coração sentindo-se perdoado.

Poucos dias mais tarde, Pedro aparece pregando ousadamente na mesma cidade onde havia negado Jesus. Quem sabe aquela mulher que o ouviu negar três vezes o Senhor estava entre aquelas quase três mil almas que se converteram no discurso de Pedro.

Irmãos, me preocupa que o ministério de restauração esteja tão extinto nas igrejas e, que em face disto, nós estamos desperdiçando muitos talentos, crentes em potencial, como era o caso de Pedro. Se Pedro fosse membro de sua igreja e cometesse todos os erros que cometeu, ele seria transformado em um líder, ou seria posto no esquecimento?