Evangelismo: Por que tanta indolência?

“Eu te glorifiquei na terra, consumando a obra que me confiaste para fazer.” João 17:4.

A elucidação do texto acima nos mostra que a glorificação é pessoal, não é da Igreja como instituição, mas personalística (eu); o objeto da glorificação é Deus, não a Igreja, não os homens, não os anjos (te glorificarei); o lugar da Igreja glorificar a Deus, cumprindo sua missão, é na Terra. No céu nós é que seremos glorificados por Deus, pois lá sua glória é patente, em manifestação total; glorificar a Deus não é aumentar a glória dEle, pois ela é grandiosa, infinita e perfeitamente completa; na terra a glória de Deus está como escondida porque Ele assim o quis e nos escolheu para manifestá-la aos homens. Jesus fez isto consumando a obra que estava para fazer; temos também uma comissão para cumprir e Deus deseja que terminemos nossa tarefa. Jesus revela que sabia que o pai lhe havia confiado a obra, quer dizer, a nossa tarefa foi dada por Deus e não por homens.

Na Igreja, o sacramento que deve sempre se repetir é o alimentar-se misticamente do corpo de Cristo e deste ponto de vista podemos dizer que a Igreja é sacramental (não como a romana enfatiza que a Igreja em si é o sacrário dos sacramentos) e dá vida. O corpo de Cristo reúne em si todos os crentes, daí a Igreja é comunionial; é também teândrica no sentido de que o homem é colaborador vocacionado à obra divina; e essencialmente querigmática, porque proclama a Palavra – e a salvação vem somente pela pregação da Palavra; é pneumática e carismática porque vive na força do Espírito Santo e trabalha através dos dons dados por Deus.

Tudo isto englobaremos dizendo que a Igreja é Crística, pois é o corpo místico de Cristo. Se Cristo teve como supremo objetivo, dado em João 17, glorificar ao Pai, então a Igreja, que é Cristo, tem como objetivo supremo glorificar a Deus.

Daí a minha resposta à pergunta, “o que leva o crente comum a ser tão apático ao evangelismo?” passará por considerar ponto chave a falha na comunhão com Deus e da busca da Glória de Deus, como explicado melhor abaixo; e podemos então, por inferência antitética, tirar o seguinte tema do texto:

Não glorificamos a Deus na terra, quando não consumamos a obra que nos confiou para fazer (e às vezes nem tentamos realizar).

Mas, se tentamos, será que temos feito o melhor? O que apresento abaixo é uma contribuição para discutirmos este ponto, a qualidade de nosso trabalho evangelístico. No entanto, nesta introdução considero a realidade de que a maior parte dos crentes nem tentando estão, são completamente apáticos, mornos. Para discutirmos a qualidade de algo este algo precisa estar sendo feito.

A vida de Jesus nos ensina que Ele tinha, antes de tudo, comunhão com o Pai e isto era prioridade. Falha na comunhão com Deus constitui para nós quando apáticos o problema; o resto é conseqüência e as primeiras delas são:

  • Não buscar a Glória de Deus. Assim como o problema é falha na comunhão com Deus, a conseqüência principal é não buscar a Glória de Deus e o restante é desenvolvimento desta falha.
  • Não obedecer aos comissionamentos de Deus
  • Falta de amor pelos perdidos
  • Vida devocional deficiente, principalmente não apego às Escrituras e falhas na/falta de oração e falta de fé.
  • Visão pobre das possibilidades e necessidades.

A falha na busca de comunhão com Deus é, por sua vez, motivada por vários problemas, dentre eles:

  • Pecado não combatido.
  • Santidade não intentada.
  • Prioridades não organizadas –principalmente no que diz respeito a dedicação de tempo, talentos, posses, potenciais (etc) para o cotidiano e para o Reino.
  • Por outro lado, a responsabilidade poderá ser:
  • Pessoal, em não corresponder ao ensino.
  • Da Igreja –líderes- que não dedicam a ensinar sobre isto.

Do ponto de vista pessoal a vida do cristão transcorre numa triste realidade:

  • Tristeza em ver o que não tem feito sempre diante de seus olhos.
  • Temor de tudo que é externo a Deus (pecado, diabo, morte, mundo, tentação ) e não o temor positivo a Deus.
  • Falta de Frutos do Espírito (amor em suas manifestações), principalmente domínio próprio.
  • Falta de ser continuamente “enchido” pelo Espírito Santo e conseqüentemente falta da “alegria indizível”.

Além de tudo, os agravantes circunstanciais:

  • Cada época requer uma releitura das nossas estratégias e muitos grupos falham em não se aclimatarem aos novos tempos.
  • A luta por manutenção e sobrevivência requer uma dedicação grandiosa, dado às exigências consumistas e a dependência da maioria em trabalhar por dinheiro num mercado concorrido.

Finalmente cito abaixo as colaborações de alguns autores:

(1) Método da “Dinâmica Espirituial” de Vergil Gerber[1]

Ao estudarmos o livrinho de Gerber poderemos logo nos preocupar em que venha apresentar técnicas para ganhar almas, fabricadas pela fantasia humana. Mas não é isto, o manual apenas é uma tentativa de ajudar aos que desejam trabalhar dentro dos princípios bíblicos. Para demonstrar isto é bom que resumamos o “método” da Dinâmica Espiritual. Se encontra em Lc 24:45-49.

24:45-47 nos mostra qual é a mensagem; o verso 47 qual é o mandato evangelístico: partilhar esta mensagem em todas as nações; o verso 48, o método evangelístico que é utilizar o testemunho humano e o verso 49 o recurso evangelístico que é a DINÂMICA do Espírito Santo. Escreve Gerber: “O Espírito Santo é que deu existência á igreja no Dia de Pentecoste e que a lançou no curso evangelístico. E nossa interpretação do capítulo 2 de Atos estará distorcida e fora de foco se não reconhecermos que o Espírito Santo foi concedido com a finalidade específica de habilitar os discípulos de Cristo a desempenhar seu papel evangelizante.”

(2) Thiessen ao escrever sobre a missão da Igreja[2], inicia em “Glorificar a Deus[3]”. Os outros pontos que se seguem são: edificar a sí própria[4]/ purificar a si própria[5]/ educar seus membros[6]/ evangelizar o mundo[7]/ agir como força restritiva e iluminadora no mundo[8]/ promover tudo que é bom[9].

(3) E. H. Bancroft[10] dentre muitos objetivos da igreja salienta também “dar eterna glória a Deus[11]” além de citar ainda: constituir um lugar de habitação para Deus/ dar testemunho da verdade/ tornar conhecida a multiforme sabedoria de Deus/ edificar seus membros/disciplinar seus membros/ evangelizar o mundo.

Finalmente, se estamos apáticos, devemos buscar a terapia que, acredito, inicia-se em orar para ser-nos dado, antes de tudo, o poder de colocarmos o Reino de Deus em primeiro lugar, ter na comunhão com Deus uma realidade e no sonho de glorificar a Deus o motivo supremo.

A partir de agora esqueçamos, por um pouco, a evangelização diretiva e tradicional, que tem seu lugar e façamos um exercício de visualizar novas ênfases, como exercício para despertarmos para a riqueza deste trabalho.

Notas:

[1] Gerber, Vergil; Sua Igreja Precisa Crescer; Ed.Vida Nova, 3ª.edição,1980.

[2] Thiessen, Henry Clarence; Palestras Introdutórias à Teologia Sistemática; Imp.Bat.Regular, 1989

[3] Rm 15:6,9; Ef 1:5,6,12,14,18; 3:21; II Ts 1:12; I Pe 4:11.

[4] Ef 4:11-16; I Co 14:26; Cl 2:7; Jd 10; I Co 3:10-15

[5] Ef 5:26,27; At 5:11; Mt 18:17; I Co 5: 6-8,13; Rm 16:17; II Ts 3:6,14; Tt 3:10,11; II Jo 10; Ap 10:7

[6] Ef. 4:11,12; Mt 28:19

[7] Mt 28:19; Mc 16:15 (contribuições missionárias: Fp 4:15-18) (intercessão missionária Mt 9:38)

[8] Mt 5:13-16

[9] Gl 6:10

[10] Bancroft, E.H.; Teologia Elementar; Imp.Batista Regular;1979

[11] Ef 3: 20,21 (a Ele seja a glória, na Igreja e em Cristo…)

por Gedson Lidório