O sobrenome

O homem busca uma identidade, com quem se corresponder eternamente, uma família, um sobrenome. Pois consiste nisso o anseio humano: encontrar a razão para a sua vida, porque ele está numa bola, no meio do universo, das galáxias, vendo as estrelas que ele sabe que são maiores que seu planeta.

Isso é maravilhoso, mas pode ser assustador e onde não há certeza há dúvida, e isso é aflitivo.

Foi pensando nisso que escrevi um livro do qual transcrevo um trecho a seguir:

“José, talvez você tenha muitas surpresas para ouvir a respeito da nossa família, mas serei franca e direta: (o clima de terror tomou conta da rodoviária, exceto pelo riso de canto de boca de Esmirna) Seu pai, sua mãe, seu avô e sua avó, acharam cada um os seus sobrenomes, o sentido da vida, não mais só existem, mas agora vivem!

José não desgrudava os olhos, nem piscava em face do turbilhão.

– Tia, você quer dizer que eles…

– Isso mesmo! Eles, todos eles, aceitaram o amor de Deus, se arrependeram, e estão livres! São agora filhos de Deus! Esses são seus sobrenomes, suas identidades, os sentidos de suas vidas – disse Esmirna.

Quando ela ainda falava, José viu outro ônibus com quatro pessoas dentro, era sua família. Ele chorou incrédulo, viu que era verdade, seus parentes haviam se reunido outra vez, e dessa vez para sempre. José abraçou-os, beijou-os, e chorou pela saudade outrora sentida, pelos rostos que ficaram tristes com sua partida, agora alegres na sua frente. Percebeu o que todo ser humano percebe quando descobre o que há anos procurava: “o sentido da vida, o sobrenome, a identidade, não estão num papel, mas no amor de Deus que nos deu Jesus para morrer por nós!”

– Eu creio, me arrependo, e quero que Jesus entre no meu coração. Ele é o meu sobrenome” disse José.