A agonia não é privilégio nosso

Ao chorar várias vezes em oração, lembrei-me da passagem de Cristo pelo Getsêmani e percebi que a agonia não é privilégio nosso: Jesus agonia! Jesus passou pelo vale que nós passamos e nos deu o exemplo de que é possível se levantar lá na frente.

Percebi que todas as vezes que o Senhor Jesus realizava um milagre Ele se retirava para orar enquanto nós, quando temos uma vitória, comemoramos como se ela fosse realmente ´nossa´ e festejamos.

Mas a vitória é perigosa e Jesus sabia disso. Satanás não se alegra com a vitória do crente e por isso prepara para ele uma batalha maior à frente no caminho. E o problema disso é não estarmos preparados para essa batalha. Contudo Jesus, sabedor disso que era, se retirava para orar quando experimentava cada vitória.

Ouvir da boca de Cristo: “a minha alma está angustiada” é algo surpreendente. Ele é capaz de entender o meu e o seu sofrimento. O ímpio sofre e fica desesperado, tira sua própria vida, bebe até cair para aliviar a dor, usa drogas e etc.; nós crentes, ao contrário, sofremos e buscamos em Deus um consolo, uma palavra de encorajamento e então passamos pelo vale.

Jesus, na agonia do Getsêmani, buscou nos discípulos que convidou para orar com Ele a amizade de alguém que estivesse disposto a compartilhar e repartir a dor. Quando atravessamos o vale, Deus prepara pessoas amigas para ouvir nosso desabafo, para nos encorajar e orar conosco. Estes são aqueles que nos amam, não pelo que temos ou que somos, mas pelo que Deus fez em nós.

Jesus, em seu momento de agonia, revelou o lado humano que, sofria como nós sofremos. O pedido “se possível, passe de mim esse cálice”, ecoa através de nossas vidas porque é exatamente o que desejamos como humanos e frágeis que somos, contudo, em sua natureza divina, Jesus pôde ver mais do que sofrimento e dor: seus olhos divinos viram mais do que o jardim e as pedras naquele Getsêmani, viram através dos séculos, viram a mim, a você! Jesus nos viu em nossa miséria e fraqueza concluindo que não suportaríamos passar pelo que Ele estava prestes a passar e por isso imbuído de sua natureza divina exclamou ao Pai: “todavia, seja feita a Tua vontade”.

Nossa oração se assemelha a de Paulo: “Senhor o que eu quero fazer eu nunca faço, e o que não quero estou sempre fazendo”. Como disse a Paulo o Senhor diz a nós: “a minha graça te basta”, e se ainda questionamos: “Senhor, mas eu estou fraco e sofrendo”, Ele completa: “o meu poder se aperfeiçoa na sua fraqueza”. Deus não quer homens orgulhosos da santidade deles, Deus quer pecadores arrependidos que estejam dispostos a aceitar o Seu perdão. Homens que choram por causa de sua condição miserável e que entendem que a força e o poder, o ânimo e a coragem para atravessar o vale vêm dEle.

Aprendi que a angústia, a tristeza e o abandono são o caminho mais curto para tocar o coração de Deus. “Não há bem que sempre dure, e não há mal que nunca acabe” – ouvi numa pregação certa vez. Nossa vida é como as estações do ano, e se estamos atravessando o inverno temos a certeza de que em breve chegará o verão. Em nossa vida tudo acontece, ou porque Deus mandou, ou porque Ele permitiu que acontecesse.

Mas há algo estranho: Por que justamente nos momentos de dor parece que Deus nos esqueceu? Já não sabemos o que é pior: a correção de Deus ou o Seu silêncio.

Jesus experimentou o silêncio do Pai, em agonia pela hora que se aproximava; ouviu passos pelo jardim e entre os homens que chegavam para prendê-lo havia um rosto conhecido – o de Judas. Ele trairia Jesus com um beijo; mas será que Jesus o amaria menos por isso? Será que Judas seria acusado por Ele? A resposta é NÃO! Ao receber o beijo, o homem mais sincero do mundo diz algo a Judas e lhe chama de AMIGO, somente Mateus registrou isso. Jesus não é hipócrita e creio que sofria por saber que aquele ato destruiria a vida de seu discípulo. Jesus amou Judas e lhe foi amigo até a última hora.

Com Jesus eu aprendi que Deus não quer que obedeçamos as regras de conduta bíblica apenas para sermos melhores, porque de fato, ´o espírito pode estar pronto, mas a carne é fraca´; Deus quer que obedeçamos os princípios bíblicos porque Ele sabe que ao nos desviar deles sofreremos muito, e qual pai se alegra com o sofrimento do filho?

Aprendi também que sempre estive errado quanto à minha atitude diante do pecado. O sofrimento que causei a Deus hoje, na verdade, venho causando há muito tempo, porque pecado é pecado independente de qual seja. Pensava ser santo diante dos homens e descobri que nós crentes só podemos ser santos diante de Deus, e mesmo assim, não pelo que fazemos, mas, pelo que Ele mesmo fez por nós.

Aprendi que todos estamos atravessando o vale juntos, contudo, Deus é conosco. “Porque sete vezes cairá o justo e se levantará” (Pv 24:16). Hoje creio nisso!

A pergunta que vem a mente é: Por que Deus me escolheu? Por que Deus escolheu a cada um? Será pela sabedoria, pelo talento em cantar, pela eloqüência no falar? Assim fosse e os humildes não seriam escolhidos e é justamente o contrário. Deus não me escolheu pelo que sou: “santo” ou “pecador”, Ele me escolheu pelo que Ele próprio é: AMOR.

Meus pecados podem surpreender as pessoas, mas, não a Deus, porque Deus conhece todas as coisas e não pode ser surpreendido. Ele nos conhece mais do que nós mesmos e por isso Ele não olha para o passado quando diz que “de seus pecados já não me lembrarei”. Quem olha para o passado é o diabo, Deus não, Ele olha para frente e por isso disse aos discípulos atemorizados trancados em casa no domingo após Sua ressurreição: “a paz esteja convosco”. Tenham paz e sigam adiante.

Jesus me ensinou que não é a derrota do passado que me desaprova, mas a vitória certa do futuro que me faz capaz de recomeçar.

Na luta, no tropeço, muitos duvidarão de sua salvação, muitos lhe darão as costas, no entanto, não desanime! Tome para sua vida o Salmo de Davi de número 38 e prenda a fazer como Davi que diz no verso 13 “Mas eu, como surdo, não ouço e, qual mudo, não abro a boca”. Lembre-se sempre de que a agonia não é privilégio nosso e que o Cristo que sofreu como nós contempla nossa restauração e nunca nossa queda. Os pecados estão na cruz há dois mil anos de distância, e o perdão próximo como uma oração.