Doutor Franskenstein e a igreja

“Ora, vós sois corpo de Cristo; e, individualmente, membros desse corpo.” [1]

“Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados.” [2]

Em meados de 1816, a londrina Mary Wollstonecraft Goodwin, 19 anos, idealizou, sugestionada por Lord Byron, o aterrorizante conto do Dr Frankenstein. Esta fábula descreve um curioso cientista, Dr Victor Frankenstein que constrói uma criatura humana a partir de órgãos retirados de diferentes cadáveres. A perna direita de um, a esquerda de outro, o olho direito castanho, o esquerdo verde e assim por diante, um a um cada órgão foi cuidadosamente ligado e colocado em sua devida posição.

Concluído o processo de junção e todas as “peças anatômicas”, era necessário, porém, o mais difícil: dar vida à criatura. No romance de Goodwin, Dr. Frankenstein conseguiu trazer a criatura à vida graças à eletrocussão de um raio durante uma tempestade.

Qual é o propósito da igreja? Recentemente fui confrontado, em meu íntimo com esta pergunta. Por que Deus se preocupou tanto em ajuntar os salvos. Por que Ele não quis tratar com cada um somente no campo individual? Conheço várias excelentes explicações teológicas a respeito do por quê da existência da igreja. Nenhuma, porém, me traz mais paz do que a explicação que a própria Palavra traz sobre a Igreja.

Porque, assim como o corpo é um e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, constituem um só corpo, assim também com respeito a Cristo.

Pois, em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um só Espírito.

Porque também o corpo não é um só membro, mas muitos.

Se disser o pé: Porque não sou mão, não sou do corpo; nem por isso deixa de ser do corpo.Se o ouvido disser: Porque não sou olho, não sou do corpo; nem por isso deixa de o ser.

Se todo o corpo fosse olho, onde estaria o ouvido? Se todo fosse ouvido, onde, o olfato? Mas Deus dispôs os membros, colocando cada um deles no corpo, como lhe aprouve.

Se todos, porém, fossem um só membro, onde estaria o corpo?

O certo é que há muitos membros, mas um só corpo.

Não podem os olhos dizer à mão: Não precisamos de ti; nem ainda a cabeça, aos pés: Não preciso de vós. Pelo contrário, os membros do corpo que parecem ser mais fracos são necessários; e os que nos parecem menos dignos no corpo, a estes damos muito maior honra; também os que em nós não são decorosos revestimos de especial honra.

Mas os nossos membros nobres não têm necessidade disso. Contudo, Deus coordenou o corpo, concedendo muito mais honra àquilo que menos tinha, para que não haja divisão no corpo; pelo contrário, cooperem os membros, com igual cuidado, em favor uns dos outros.

De maneira que, se um membro sofre, todos sofrem com ele; e, se um deles é honrado, com ele todos se regozijam.Ora, vós sois corpo de Cristo; e, individualmente, membros desse corpo.[3]

A Bíblia nos diz que a igreja é um corpo. Ora, como médico, posso dizer com certeza, que nenhum órgão separado do corpo é capaz de sobreviver por muito tempo. Mesmo nos casos de órgãos retirados para transplante, em passadas as horas iniciais para o transplante, já não há viabilidade no órgão. Além disto, o implante de cada órgão é sempre acompanhado de um processo de adaptação. Coração, rins, córneas e demais órgãos, quando transplantados necessitam passar por um processo e adaptação para não sofrer rejeição. Há ainda algo interessante a considerar: Não é possível adaptar à um organismo vivo, algo que também não esteja vivo. Mesmo em casos de próteses artificiais, como o coração mecânico ou as válvulas cardíacas metálicas, o funcionamento não equivale nunca à reposição com outro órgão vivo.

O que diferencia a Igreja do monstro do Dr. Frankenstein? Dr. Victor construiu seu monstro a partir de partes mortas, ligando-as umas às outras de forma artificial. Nunca houve cicatrização entre as partes ajuntadas… A Igreja é um corpo construído a partir de órgãos vivificados, outrora completamente mortos e sem utilidade, mas que, antes de serem enxertados no corpo sofreram um processo extraordinário que os tornou vivos.

Os membros do Corpo de Cristo foram enxertados vivos no corpo e são sustentados em vida graças ao sangue puro e Santo de Jesus que é incapaz de rejeitar qualquer nova aquisição que se ajunta à Ele. Deus nos colocou na igreja para cooperarmos uns com os outros. Corações enviam o sangue às partes mais remotas do corpo. Pés ajudam a igreja a caminhar auxiliados pelas pernas que dão força e sustentação. Os rins e o fígado retiram do corpo as impurezas, mantendo vigilância sobre todo o corpo. Os pulmões e os intestinos captam recursos para o fortalecimento de todo o corpo. Captam alimento que tornará o corpo forte. Os braços dão equilíbrio, sustentam o escudo da fé e estão sempre abertos para acolher novos membros, vivificados pelo sangue de Jesus! O Cabeça, maestro de todo o processo é o próprio Jesus que, através do Seu Espírito, mantém vivificados aqueles que foram retirados da morte do pecado.

É impossível ser um cristão sem fazer parte do Corpo de Cristo. Não existem corações batendo sozinhos pelas ruas ou braços escrevendo cartas ou ainda pernas jogando futebol erráticas por aí. Precisamos uns dos outros. Quando a igreja caminha unida, mostra que em suas veias o Sangue que os une não foi apagado por doenças ou outros ataques. Entretanto, feridas mal tratadas em qualquer órgão podem tornar o corpo seriamente enfermo. Nestes casos, é preciso ser humilde e reconhecer que todos nós, um dia poderemos precisar ser tratados e, quando este dia chegar, receberemos o bálsamo maravilhoso do Senhor. Os órgãos do nosso corpo físico não são auto-suficientes. Por que os membros da Igreja deveriam ser?

Frankenstein foi animado por um raio. Em meio a uma tempestade, sem corpo morto foi animado por uma descarga elétrica. A idéia de Goodwin não é possível na vida real. Na medicina, no entanto, determinadas patologias que cursam com parada cardíaca podem ser reanimadas com um choque elétrico. A Igreja é tecida a partir de órgãos vivos e, portanto não precisa de receber qualquer eletrocussão para estar viva. Entretanto, existem algumas enfermidades que podem comprometer o Corpo de Cristo de tal forma a torná-lo apático e seriamente enfermo. Nestas ocasiões é preciso clamar para que o Senhor dê um choque no meio do Seu povo para que os membros que estiverem doentes sejam reanimados e possam prosseguir exercendo seu papel na geração incrédula e perversa.

A Igreja não é um amontoado de carne morta costurada para satisfazer à uma vaidade humana. Somos um Corpo Vivo, bem ajustado, ligado e unido com juntas celestiais!

Até a próxima.

Notas:

[1] 1Coríntios 12:27 [2] Efésios 2:1 [3] 1Coríntios 12:12-27