A história da criação, início e separação dos dias (Apresentação)

Apresentação

O estudo admite que a história bíblica da criação é texto inspirado e revela ocorrências reais. Avalia, entretanto, que a sucessão dos seis primeiros dias não consegue ser explicada conforme a disposição que se conhece dos dias atuais: as citações das tardes e manhãs, criadas na primeira semana, parecem apontar para um cenário temporal diverso – que se distingue e se afasta, do cenário natural que nos tem sido familiar.

Desenvolvimento

Será desenvolvido em quatro partes; e cada parte dividida em sessões:

I. No princípio, o equívoco da intuição. Exposição das dificuldades de interpretação relacionadas à história da primeira semana. Sessões: 1. Interpretações literal e simbólica; 2. Tarde ou Manhã? 3. A representação intuitiva; e 4. Dias e tempos diferentes.

II. A sucessão dos dias e o passar do tempo. Reflexão, método e achados da teoria da relatividade, verificando como ela se mostra útil na separação e caracterização dos dias: tanto no vínculo que une dias e tempo; como no estudo de cada parte do dia – proporcionando conceitos, de alcance suficiente, para outras manifestações de tempo e dia; e, ainda, no conhecimento que firmou sobre a natureza do tempo. Sessões: 1. A relatividade e o tempo; 2. Tempo e espaço; 3. Os dias e o calendário; 4. Os dias e o tempo; e 5. O dia e os crepúsculos.

III. O pecado e a Lei. Verifica como o pecado e a Lei de Moisés se estruturam – em três sistemas coordenados, distinguindo e separando dias e tempo. Sessões: 1. O nascer e o pôr-do-sol; 2. Intuição x Revelação; 3. Grupos descritivos, temas e cenários; 4. Três sistemas coordenados; e 5. O pecado, a morte e a Lei.

IV. O dia criativo. Estudo do início e composição dos dias – conforme o sistema ao qual se referem, avaliando-se, por fim, a posição do dia e da noite, das tardes e manhãs, para os dias da primeira semana da criação. Sessões: 1. Os sistemas e os dias; 2. Cada sistema tem seu dia; 3. Duas espécies de tempo e três tipos de dia; 4. A inversão da noite e da tarde; e 5. A composição do dia criativo.

Leia a Parte 1

Notas:

[1] Este comentário reapresenta o artigo Tarde e Manhã em Gênesis 1, os dias, o tempo e a relatividade. Desde que foi publicado, em 1996, algumas questões relacionadas ao artigo puderam ser tratadas em duas outras exposições: Gênesis um e a explosão da vitrine (1998) e Carta a Richard Dawkins (2008). No entanto, como se verificou neste período, o aporte de informações disponibilizado para a discussão ainda tem sido pequeno.

Assim, o que se pretende neste trabalho, é reunir elementos que possam atender, de alguma maneira, esta necessidade – que se expressa, por exemplo, nas questões que apontam para a teoria da relatividade e sua aplicação na leitura bíblica. Porque buscar apoio fora da teologia – na física? E porque a teoria da relatividade? O que ela propõe? De que forma pode ser útil? Se a relatividade realmente tem a importância que o artigo lhe atribui – na leitura da primeira semana, como explicar que a Escritura tenha “esperado” tanto tempo para ser “melhor compreendida” por ela? Ou, ainda, se no futuro surgir outra teoria – na física, que mostre algum “erro” na teoria da relatividade, não se poderá dizer, novamente, que a história da criação seria melhor compreendida por essa outra teoria? – ficando “provado”, portanto, por meio de teorias humanas, que o escritor bíblico “errou” quando escreveu o primeiro capítulo do Gênesis?

Começando, pois, com as três últimas perguntas, pode-se afirmar que tal como ocorreu no surgimento teórico da relatividade, assim também ocorre quando ela é aplicada no estudo da primeira semana. Ao apresentar uma compreensão mais consistente do tempo – e do espaço, a teoria da relatividade não “invalidou” a física clássica, mas, pelo contrário, preservou-a, ainda que “restrita” a determinadas condições – que a ela se aplicam. Quando se diz, portanto, que a história da criação é melhor compreendida pela física da relatividade, não se quer dizer, com isso, que as demais interpretações – sob a percepção comum e clássica do tempo, se tornaram “inválidas”, e que, por isso, devem ser “descartadas”. Entretanto, depois do surgimento da teoria da relatividade – e dos achados que a acompanharam, não tem mais sentido utilizar a antiga idéia de tempo na leitura da primeira semana; e isto sem considerar, ainda, o que é mais importante: com o modelo teórico proposto pela relatividade, se consegue resolver “problemas” na história da criação que, de outra forma, permanecem aguardando respostas.

Ou seja, as demais interpretações permanecem aceitas e continuam válidas – ainda que “restritas” aos contextos aos quais se aplicam. Isto, aliás, não parece ser uma novidade em se tratando do escrito bíblico, que, desde longa data, “permite” diferentes demandas de compreensão – em qualquer tempo ou lugar, venha da criança ou do adulto, e, seja de que origem for – sob diferentes níveis de profundidade. Uma criança, por exemplo, não precisará da relatividade para entender que, segundo a narrativa, Deus criou o mundo e os dias – ou que as noites, tardes e manhãs existem desde o primeiro dia; entretanto, se um adulto quiser entender como se desenvolveram os primeiros dias – ou como foi a sucessão das primeiras tardes e manhãs, dificilmente conseguirá fazê-lo sem “libertar-se” da prisão do tempo absoluto – como se tornou possível com a relatividade.

Por outro lado, não se pode dizer, é claro, que a teoria da relatividade seja suficiente para prover o entendimento definitivo de toda a história da criação; mas com ela, sem dúvida, se consegue caminhar bem mais em sua compreensão. Infelizmente ainda será preciso aguardar outras contribuições, que, com certeza, virão – e não apenas da física, se o que queremos é, de fato, chegar a um entendimento mais satisfatório da primeira semana. A proposta do artigo, portanto, é que podemos (se não for, que devemos) ter, hoje, nossa própria interpretação do texto – obtida com o diálogo entre as diversas disciplinas do conhecimento; ou, então, teremos que nos conformar com as interpretações que, vindas do passado – e apesar da utilidade que tiveram na época em que surgiram, são incompatíveis com as imposições atuais do pensamento contemporâneo.

Pois bem, conforme se viu acima – no interesse das primeiras perguntas, o objetivo desta exposição será voltar-se para a teoria da relatividade; e, sem perder de vista o foco teológico, verificar quais as características que a credenciam como “ferramenta” adequada no estudo dos dias bíblicos. Portanto, adotou-se a opção de manter o desenvolvimento da apresentação de 1996, reservando maior atenção ao material que foi “emprestado” da física – através de acréscimos e modificações, no corpo do artigo e, principalmente, nas notas.

Mais do que simplesmente citar o uso da relatividade – como se fez na primeira exposição, tratou-se de demonstrar agora – dentro dos limites que nos cabem, o que ela significa, qual sua utilidade, como foi empregada e, especialmente, como foi apresentada – no vigor das descrições originais, reproduzidas de Einstein e Infeld – em A Evolução da Física e Igor Novikov – em Os Buracos Negros e o Universo. Os gráficos, que compunham o primeiro artigo, foram retirados – pelo risco de perda da formatação em meio eletrônico; também foram retirados os apêndices finais – diante da opção de se valorizar, agora, a existência física dos dias; e na bibliografia, foram relacionadas, apenas, as obras citadas no texto. Finalmente, é preciso dizer que o argumento defendido aqui, como também ocorreu em 1996, não representa, necessariamente, uma denominação institucional específica; e, também é preciso reafirmar a importância de muitos colaboradores que, de uma forma ou de outra, ajudaram, desde o início, no desenvolvimento do estudo: se houver relevância no trabalho – “ajuntando” na obra do Senhor, a participação deles deve ser reconhecida; no mais, a responsabilidade pelo seu conteúdo, pareceres e exposição, é inteira do subscritor.

Bibliografia

A Bíblia de Jerusalém. São Paulo, Ed. Paulinas, 1985.

AGOSTINHO, A. Cidade de Deus, 2ª ed., Trad. por Oscar P. Leme. Petrópolis, Editora Vozes, 1990.

Biblia Hebraica Stuttgartensia. Stuttgart, Deutschen Bibelgesellschaft, 1969/77.

EINSTEIN, A. INFELD, I. A Evolução da Física, 4ª ed., Trad. por Giasone Rebuá. Rio de Janeiro, Editora Guanabara, 1988.

HOLANDA, A.B. Novo Dicionário da Língua Portuguesa (Aurélio). Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1975.

NOVIKOV, I. Os Buracos Negros e o Universo. Trad. por Manuel Silva Loureiro. Lisboa, Editora Elfos, 1990.

PINHEIRO, J. Einstein e os caminhos da criação: a cosmogonia judaica e o conceito espaço-tempo em Gênesis um. Rev. Teol. Latino-americana Vox Scriptuarae, v. VII, n. I, pp.25-36, 1997.

Disponível em http://www2.uol.com.br/bibliaworld/igreja/estudos/gen001.htm

SPERANDIO, J.L. Carta à Vox Interativa: sobre o artigo Einstein e os caminhos da criação: a cosmogonia judaica e o conceito espaço-tempo em Gênesis um. Rev. Teol. Latino-americana Vox Scriptuarae, v. VIII, n. I, pp.113-120, 1998. Em publicação eletrônica, sob o título: Gênesis um e a explosão da vitrine.

Disponível em http://www2.uol.com.br/bibliaworld/igreja/estudos/gen002.htm

SPERANDIO, J.L. Carta a Richard Dawkins. Disponível em https://www.irmaos.com/

SPERANDIO, J.L. e outros. Tarde e manhã em Gênesis um: os dias, o tempo e a relatividade. Rev.Teol. Sem. Presb. do Sul, a. LVII, n. 43, pp. 27-46, 1996.

Disponível em http://www2.uol.com.br/bibliaworld/igreja/estudos/gen004.htm

STROES, H.R. Does the day begin in the evening or morning? “Some Biblical Observations” in Vetus Testamentus, v. 16 (1966): 460-475.

por Jorge Luiz Sperandio