Carta ao apóstolo Paulo

Amigos, quando fui solicitado a escrever esta coluna, o desafio era de produzir um artigo exclusivo e inédito toda semana. Mas ao deparar-me com este texto, escrito pelo irmão Paul Hamilton, da Shiloh Christian Library, não resisti à tentação de traduzí-lo e mostrar a vocês. Estou certo de que vão gostar. Ele traz bem o estilo que temos imprimido à coluna, é um texto ao mesmo tempo leve, mas que faz-nos refletir alguns paradigmas da igreja moderna, que pensa que “é”, julga-se a “igreja da História”, mas que perde longe para outros tempos em que “recurso” significa outra coisa. Desfrute-o, pois.

Para: Apóstolo São Paulo
Missionário independente
Corinto, Grécia

Prezado Sr. Paulo,

Acabamos de receber uma inscrição sua para servir em nossa Missão. É nossa política sermos o mais francos e abertos possível com todos os nossos candidatos. Fizemos uma análise exaustiva do seu caso.

Para sermos objetivos, ficamos surpresos que você tenha conseguido ser aprovado como um missionário de alguma utilidade.

Foi-nos dito que você sofre de um sério problema ocular. Isto é certamente uma desvantagem insuperável para um ministério efetivo. Nosso Comitê exige uma visão 20/20. Em uma de suas cartas, você refere-se a si mesmo como “Paulo, o velho”. Nossa nova política de missões não prevê um excedente para aposentadoria por invalidez.

Você tem causado muito problema por todo lugar por onde passa. Você se opôs às mulheres distintas de Beréia e aos líderes de sua própria nacionalidade em Jerusalém. Se um homem não se dá com seu próprio povo, como ele pode servir estrangeiros? Em Antioquia, soubemos, você se opôs ao Dr. Simão Pedro, um estimado missionário local e até o repreendeu publicamente. Você arrumou tantos problemas em Antioquia que uma reunião extraordinária do Comitê teve que ser convocada em Jerusalém. Não podemos desculpar tais ações. Você causou tantos problemas para os comerciantes de Éfeso que eles se referem a você como “o homem que transtornou o mundo”.

Estamos assustados com a sua óbvia falta de comportamento conciliatório. Homens diplomáticos não são apedrejados e arrastados para fora dos portões da cidade, ou atacados por multidões furiosas. Você nunca desconfiou que palavras mais gentis poderiam fazê-lo ganhar muito mais amigos? Anexo, envio-lhe uma cópia do livro de Dalius Carnagus, “Como Ganhar os Judeus e Influenciar os Gregos”.

Você admite que enquanto esteve preso em Roma todos “lhe abandonaram”. Bons homens nunca ficam sem amigos. Três excelentes irmãos, chamados Diótrefes, Demas e Alexandre, o latoeiro, garantem que é impossível para eles cooperarem com você ou com seu programa. Sabemos que você teve uma amarga desavença com um colega missionário chamado Barnabé. Palavras duras não fazem a Palavra de Deus avançar.

Você acha decente para um missionário ter um trabalho secular de meio período? Ouvimos dizer que você está fabricando tendas. Numa carta à Igreja de Filipos, você admitiu que eles eram a única igreja apoiando você. Por que será?

É verdade que você tem uma ficha policial? Alguns irmãos relatam que você pegou dois anos em Cesaréia e estava aprisionado em Roma. Sensacionalismo, em missões, é inadmissível. Também deploramos o chamativo episódio de “descer pelo muro no cesto” em Damasco. Ouvimos que você é um encantador de serpentes. Em Malta, você pegou uma serpente venenosa que dizem ter picado você, mas você não sofreu mal algum. Ora, ora, ora!

Entendemos que você é dado a fantasias e sonhos. Em Trôade, você viu “um homem da Macedônia” e outra vez “foi levado ao terceiro céu” e até afirma que “o Senhor estava de pé” ao seu lado. Supomos que para a tarefa de evangelismo mundial são necessárias mentes mais realistas e práticas.

Você escreveu muitas cartas às igrejas onde pastoreou. Em uma das cartas, você acusou um membro da igreja de viver com a mulher do pai, e fez com que a igreja toda se sentisse muito mal; e o pobre rapaz foi excomungado.

Você gasta muito tempo falando sobre “a Segunda Vinda de Cristo”. Suas cartas ao povo de Tessalônica foram quase totalmente dedicadas a este tema. Ponha as coisas mais importantes em primeiro lugar, de agora em diante.

Seu ministério tem sido demasiadamente itinerante para obter algum resultado. Primeiro Ásia Menor, depois Macedônia, então Grécia, Itália e agora você fala em uma inútil viagem à Espanha. É melhor concentrar esforços do que dissipá-los. Você não consegue ganhar o mundo sozinho. Você é somente um pequeno Paulo.

Em um recente sermão, você disse que “longe de mim gloriar-me senão na cruz de Cristo”. Parece-nos que você deveria gloriar-se também em nossa herança, nosso programa denominacional, nosso orçamento unificado, nosso Programa Cooperativo e na Federação Mundial das Igrejas.

Seus sermões por vezes são compridos demais. Em certo lugar, você falou até meia noite e um jovem ficou com tanto sono que caiu da janela e quebrou o pescoço. Ninguém é salvo depois dos primeiros vinte minutos, de maneira alguma. “Levante-se, fale alto, e sente-se” é o nosso conselho.

Dr. Lucas relata que você é um homem franzino, careca, freqüentemente doente e sempre tão agitado com a sua igreja que dorme muito pouco. Ele conta que você fica andando pela casa orando metade da noite. Mente sã num corpo são é o nosso ideal para todos os candidatos. Nada como uma boa noite de sono para refazer suas energias para um novo dia.

Também preferimos enviar somente homens casados para servir no exterior. Sua política de celibato é deplorável. Simão o Mago abriu uma agência de casamentos em Samaria, onde estão disponíveis os nomes de viúvas excelentes.

Recentemente, você escreveu a Timóteo que “você combateu o bom combate”. Combater nem é uma coisa recomendável para um missionário. Nenhum combate é bom. Jesus veio não para trazer a espada, mas a paz. Você se gaba de “ter lutado com feras em Éfeso”. Que raios você quer dizer com isso?

É difícil para eu dizer-lhe isto, irmão Paulo, mas em todos os meus 25 anos de experiência eu nunca encontrei um homem inadequado às exigências de nosso Comitê de Missões Transculturais. Se nós aceitássemos você, quebraríamos todas as regras de práticas missionárias modernas.

Sinceramente,

J. Flavious Cabeçus de Ventus
Secretário do Comitê de Missões Transculturais

Pensando bem:

(Artigo escrito por Paul Hamilton, usado com permissão)