Os Fariseus V

7. Julgavam ser os únicos que conheciam o caminho, mas com essa atitude impediam outros de conhecê-lo de fato (Mt 23:13,15)

Tenha em mente que os fariseus eram, obviamente, judeus. Faziam parte do povo escolhido por Deus para ser testemunha dEle entre as nações. Tinham “zelo de Deus, porém sem entendimento”, segundo Paulo escreveu aos Romanos. Tinham certeza de que Jeová era o único Deus, que a aliança era eterna e única, e que só eles tinham o segredo para entrar no Reino. O próprio Paulo, imbuído deste sentimento, sendo “quanto à lei, fariseu” (Fp 3:5), achou que estava prestando um grande serviço à causa do Deus de Israel quando se transformou em “perseguidor da igreja” (Fp 3:6). Na sua mente programada desde pequeno para ser um fariseu, o Evangelho de Jesus Cristo era uma terrível ameaça, uma heresia destruidora da sua religião intocável. Para ele, o farisaísmo era maior e mais importante do que Jesus.

Criam tanto nisso, que começaram a julgar-se os únicos que podiam entrar no Reino. Os outros, os gentios (“as gentes”, “o povão”), não tinham a menor chance. Em todo caso, gostavam de pensar na hipótese de um gentio passar pelos cerimoniais judaicos e tornar-se um “prosélito”. Jesus afirmou que eles “rodeavam a terra” para conseguir isso. Só que o simples fato de eles serem judeus e fariseus não era garantia de que eles tinham um relacionamento correto e verdadeiro com Deus. E por isso, quando outros vinham e tornavam-se prosélitos, acabavam duplamente enganados. Não conseguiam para suas vidas nada mais do que o senso estúpido de espiritualidade legalista, fria e morta dos líderes a quem seguiam.

A acusação que Jesus lhes faz é seríssima. Com essa atitude exclusivista, eles estavam impedindo que pessoas sinceras e interessadas conhecessem o reino dos céus. Tornaram-se pedra de tropeço. Seu “orgulho espiritual” tapava a entrada do céu. As penas de pavão da sua arrogância religiosa estendiam-se até desviar o penitente do verdadeiro caminho. Além disso, “desprezavam os outros” (Lc 18:9) por acharem-se justos.

Não é preciso muito esforço para perceber que este sentimento vil e jactancioso tem corroído a igreja contemporânea. Temos muitos “guardiões da fé”, “defensores da verdade”. Só eles sabem, só eles estão certos. São únicos. Sua igreja é a única verdadeira, sua maneira de trabalhar é a única que Deus aprova. O resto é resto, é apostasia, é desvio, é abandono da fé, é igreja falsa. Faz a gente lembrar os filmes de ficção americanos, em que os Estados Unidos são sempre apresentados como os únicos que poderiam defender o mundo de uma invasão interplanetária. Ouvimos tantas, mas tantas vezes que somos a melhor igreja, a mais neo-testamentária, a mais fiel, a mais missionária, a Filadélfia do plano profético, a menina (exclusiva) dos olhos de Deus, que acabamos acreditando nisso.

Apesar de tanta truculência e vaidade no discurso, porém, os resultados raramente se traduzem em pessoas convertidas e novas igrejas plantadas e crescentes. Somos aproximadamente 1000 assembléias dos “Irmãos” neste país. Imagine (exageradamente) que em média elas tenham 100 membros. Isso dá 100.000 pessoas. Num país de 170 milhões de habitantes, se o Brasil dependesse somente de nós para conhecer a Cristo, estaria roubado! Graças a Deus que não somos os únicos que têm a chave do Reino. Parece que no nosso zelo a gente a escondeu tão bem que nem nós conseguimos mais achá-la.

Gente, não é hora de fazer do nosso modelo ou da nossa identidade o alvo da nossa luta. Enquanto seguirmos por este caminho, vamos impedir muita gente de entrar no Reino. Nossa geração não pode perder tempo com isso. É hora de uma reflexão profunda, de pensamento desarmado, de joelhos grudados no chão e olhos grudados no céu. É hora de mais compaixão por aqueles que querem entrar e a gente não deixa. É hora de pensar menos na “defesa dos nossos princípios” e mais da salvação de almas que caminham para o inferno”.

Lembre-se de que os fariseus tinham convicção de que eram os únicos que sabiam. Mas eles nem sabiam. E por causa desta convicção falsa, rejeitaram ao Senhor Jesus.

Pensando bem:

Para o fariseu, o farisaísmo era mais importante do que Jesus. E para você, o que é mais importante?