Cristão-cidadão I

Amigos, é sempre bom pensar no que podemos fazer para melhorar o Brasil. Somos cristãos, nossa pátria é celestial. Mas já lhes disse isso recentemente: enquanto estivermos aqui no mundo, temos obrigações sociais e civis a serem cumpridas. Queremos um Brasil melhor, mais justo, mais solidário. Queremos que as promessas dos políticos se concretizem em uma realidade mais amena para todos nós. Sentimos que precisamos fazer alguma coisa para ajudar. Mas o quê exatamente podemos fazer? Até onde podemos ir? É possível que muitos estejam com este “grilo na cuca”, dado o momento político que vivemos: como é que fica essa história de crente da política? Está certo ou errado? Devemos votar em um candidato só porque ele é crente ou pelo menos se apresenta assim?

Tradicionalmente fomos ensinados, como uma questão fechada e indiscutível, que crente não entra em política. Por conseguinte, não deve envolver-se em qualquer tipo de movimento de organização social, hoje em dia chamados de “movimentos de cidadania”. Nossa função única é pregar o Evangelho, já que foi somente isto que fizeram o Senhor Jesus e os apóstolos que o seguiram. Ponto final. Pelo menos no Brasil, desde que eu posso me lembrar de alguma coisa, esta foi a postura clássica.

A partir dos anos 80, durante o processo de abertura política, no período pós-ditadura militar, houve uma efervescência do movimento sindical, notadamente no ABC paulista, surgiram vários partidos políticos. Nesta mesma época, um número cada vez maior de jovens cristãos começou a ter acesso às universidades e o contato com as idéias revolucionárias e os ideais libertários que ganhavam cada vez mais adeptos de certa maneira contagiou também os cristãos brasileiros. Uma vez consolidada a transição da ditadura para governos civis e democráticos, mesmo em meio a grandes decepções com tais governos (Sarney, Collor de Mello, FHC, além dos governos estaduais e municipais que nem sempre agradaram), passou-se a discutir de maneira cada vez mais forte a necessidade de que haja cristãos também no Congresso Nacional e quiçá no Palácio do Planalto, nas Assembléias Legislativas e Governos de Estado.

Não é um assunto que tenha merecido a devida atenção. Lembro-me de que uma ocasião, muitos anos atrás, solicitei a um irmão que falasse alguma sobre o assunto em uma reunião para a juventude. Era ano de eleição, o assunto estava em alta e muita gente gostaria de ouvir uma orientação sobre isso. Ele comprometeu-se com isso, mas no dia simplesmente mudou de assunto e falou sobre outra coisa. Isso me causou estranheza. Pareceu-me que não havia suficientes argumentos para convencer-nos de um lado ou de outro. Pareceu-me um tratamento superficial, medroso. Não se tratava de usar o púlpito para discutir em quem votar, nem de fazer campanha a favor ou contra ninguém, mas apenas mostrar o que a Palavra de Deus nos diz a respeito, sem ser simplista e dizer meramente: “Não pode porque não pode”.

Não é meu propósito nem pretensão dar uma resposta definitiva a esta questão, porque isso não é tão simples como alguns pensam. Nem de um lado nem de outro. Se outros que sabem mais do que eu não se arriscaram, imaginem se eu devo! Quero apenas tentar chamar a nossa atenção para alguns aspectos que talvez estejam passando despercebidos dentro do tema, procurando mostrar algumas coisas a respeito das quais podemos ter certeza.

Há bons argumentos, de ambos os lados. Ao mesmo tempo em que é difícil conciliar a vida política com alguns textos da Bíblia, também não é fácil engolir que a Igreja de Cristo não tenha nada a oferecer para melhorar este caos. Se por um lado somos exortados a “deixar os mortos sepultar seus próprios mortos”, por outro somos “sal da terra e luz do mundo”, e isto deveria, em tese, envolver qualquer esfera da vida humana, política incluída.

Vê-se, não é um tema fácil. Mas podemos buscar um equilíbrio e pelo menos analisar isso com calma. O sábio Salomão ensinou que responder sem ouvir é tolice. Então, vamos pensar um pouco e depois a gente responde.

Pensando bem:

“O cristão é de outro mundo, mas não de outro planeta” Anderson Zem