Atrasos e decepções

Algum tempo atrás me decepcionei comigo mesmo. Havia preparado-me para determinado concurso, estudado a matéria e pesquisado a legislação pertinente. No entanto, no dia e hora marcada para a realização da prova resolvi dormir um pouco mais (os famosos cinco minutos de bobeira). Acordei como quem não tem nada a fazer, despreocupado como o tempo e com o mundo. Afinal, o local da prova ficava perto da minha residência. Pra que me preocupar? Pensei.

A caminho do local da prova a “ficha caiu”. Percebi que poderia estar atrasado e que não conseguiria chegar em tempo para realizá-la. Como atleta olímpico comecei então a correr (bem mais lento, é claro). Minhas pernas saltitavam no ar no desejo de voar. Imaginei que, assim como aconteceu com Josué (Josué 10:12), bom seria que o “sol” e os minutos parassem para que eu pudesse chegar no horário. Todavia, isso não aconteceu: dei de cara com o portão trancado. Um único objeto de aço separava-me do meu objetivo. Poucos metros distanciavam-me do concurso.

A decepção e a frustração tomaram conta de mim. A única opção que me restou foi dar um chute numa árvore, que por sinal, nada tinha com o meu problema. Entretanto, não era eu o único displicente que havia chegado atrasado. Mais três rapazes estavam ali, entregues à decepção, cada um com a sua justificativa. O primeiro, por sinal revoltado, dizia que não sabia que o horário da prova seria do fuso de Brasília/DF; o segundo estava despreocupado, não havia estudado mesmo e o terceiro desculpava-se asseverando que era do Sul, por isso confundiu os horários. Estávamos ali, entregues ao desanimo. Aborrecido, peguei o rumo da minha casa enquanto os demais permaneceram desconsolados.

Todos atrasados

O que ocorreu comigo e com os outros rapazes não é algo isolado. Por incrível que pareça vez ou outra sempre atrasamo-nos. A reunião que inicia, o ônibus que parte, o avião que alça vôo ou a aula que é ministrada são exemplos mais comuns de nossos atrasos cotidianos. Mas sempre temos as nossas desculpas: O trânsito estava congestionado! Não sabia o horário! Estava sem relógio! Estava muito cansado! Sãos esses os nossos argumentos. Desculpas essas que somente servem para tentar amenizar nosso erro e desculparmos a nós mesmos.

Tirando as exceções, na grande maioria chegamos atrasados porque queremos. Deixamos tudo para o último momento. Dormimos um pouco mais, mesmo sabendo que teremos uma reunião às 7:00 da manhã. Enrolamos o tempo, não obstante a ciência de que nosso ônibus partirá daqui a pouco.

Atraso espiritual

No plano espiritual, apesar de algumas divergências de analogia, podemos perceber a existência de algumas pessoas que sempre deixam para a última hora a tomada de decisão. Para muitos, Deus é o último compromisso da sua agenda; relegando-o a um simples “Se der tempo converso com Ele, senão fazer o quê?!”.

O homem, para banir Deus da sua vida, não precisa necessariamente declarar isso com todas as palavras. Percebe-se isso quando se dá a Criador um pequeno, ou quase nenhum espaço nas suas ocupações. O futebol, o trabalho ou estudo são primazias na vida daqueles que “dormem” um pouco mais, antes do compromisso com Deus.

Ignorar Deus é fácil quando se têm milhares de outros afazeres na sua frente. Aliás, vivemos numa época de escassez do tempo. Minutos valem dinheiro. Segundos têm o preço de ouro. Saímos de casa apressados para chegar ao trabalho. Preocupamo-nos com o trânsito e com os semáforos. Na empresa falamos ao telefone, enviamos e-mails, discutimos com colegas, redigimos, atendemos, andamos, corremos e… Nada de pensarmos em Deus. Em casa, comemos, bebemos, brigamos, estudamos, ouvimos música, dormimos, acordamos e… Nada de pensarmos em Deus.

Assim, essa rotina de exclusão do Criador prolonga-se no tempo e no espaço, até o dia em que o homem percebe que está “atrasado” em relação ao plano de Deus e então, mais que rapidamente inicia uma corrida em direção aos portões celestiais. Impressionante que, na maior parte das vezes, o cidadão somente percebe tal atraso espiritual nos momentos de extrema dificuldade. Fatos como a morte e a doença fazem a “ficha cair”.

Nessa corrida para os portões celestiais, felizes são aqueles que ainda os encontram abertos, tendo na recepção o eterno e sublime Deus de braços abertos, pronto a perdoar e desconsiderar os erros passados. Outros, porém, perderão a oportunidade, alguns permanecerão em sua crassa sonolência espiritual, outros inventando desculpas para seus erros, outros ainda despreocupados com as conseqüências de suas falhas.

Dois exemplos distintos

Foi exatamente o que ocorreu com os dois ladrões que estavam ao lado de Jesus (Lucas 23) quando da sua crucificação. Na reta final de suas vidas, tinham eles ainda a oportunidade de chegarem ainda em tempo aos portões da graça.

O primeiro optou por não “correr” para os braços de Deus, eis que resolveu zombar de Jesus. O segundo, no entanto, teve sua vida modificada no final da sua carreira, quando os portões estavam prestes a se fecharem. Bastou somente a demonstração de arrependimento de seus atos e fé em Cristo Jesus, dizendo: “Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no Teu reino”. A resposta do mestre foi: “Em verdade de digo que hoje mesmo estarás comigo no Paraíso”.

De fato, a graça de Deus é abundante e todos têm a plena possibilidade de acesso a essa imensa dádiva. Todavia, chegará um dia em que os portões se fecharão, seja individual com a partida de cada individuo ou geral, com a volta de Jesus. Assim, ao invés de deixar a decisão para o último momento, sob o risco de encontrar os portões fechados; melhor é aproveitar o – hoje e agora – decidindo-se por uma vida na presença de Deus. Por isso, não se atrase!