O perigo da privacidade ilimitada

As coisas não vão bem. Não é de hoje que recebo notícias de pais realmente surpresos por descobrirem que seus filhos adolescentes estavam enfiados até o pescoço em algo grave. “Eu não podia imaginar”, “Eu não esperava isso” ou “Ele nunca demonstrou nada”, são as frases mais ouvidas de pais que, resignados, admitem seu fracasso.

Por confiarem quase cegamente em seus filhos, acabam desarmados diante da situação e admitem que foram completamente enganados. A verdade é que, em nome da privacidade que os filhos precisam e até exigem, as portas foram trancadas, as senhas instaladas e o silêncio fechou as janelas. O quarto dos filhos tornou-se território independente e totalmente autônomo. Uma verdadeira ditadura, onde as regras da casa ficam porta a fora. Dentro da privacidade dos quartos, ninguém entra, ninguém mexe, ninguém está autorizado a vasculhar.

Os pais, reféns dessa tirania da privacidade e da falta de domínio tecnológico, não tentam mais entrar na intimidade dos seus filhos e já nem imaginam o que a moçada anda fazendo pelos caminhos do MSN, ORKUT, celulares e salas de bate-papo virtuais.

Por isso, é mais do que o momento para os pais mudarem seus conceitos. Ou interrompemos esse processo, ou seremos engolidos por ele. Ou começamos a entender um mínimo necessário para acompanharmos responsavelmente a vida dos nossos filhos, ou eles serão vítimas do nosso descaso.

É claro que permitir alguma privacidade dentro de casa é necessário e importante para o desenvolvimento da moçada, mas a privacidade tem limites. Deve ter, para o bem de todos.

E, se a gente pensar bem, até mesmo os adolescentes e jovens que querem sua privacidade preservada, também sentem grande falta do acompanhamento dos pais, do interesse por suas vidas. Pode acreditar, ninguém tem prazer em ser completamente livre de cuidados e interesse, mesmo quando isso se manifesta numa relação entre pais e filhos. A preocupação com eles, mesmo quando não é aceita, comunica aos seus ouvidos a verdade: “Meus pais se preocupam comigo. Eles me amam”.

Será que as portas devem ficar trancadas? Será que os computadores devem possuir senhas que somente os filhos conhecem e que os pais não têm o direito de, vez ou outra, conferir o histórico dos sites visitados? Será que adolescentes devem usar o celular sem controle algum? Creio que não. Todas as relações humanas devem possuir limites e regras. Se não há o que se esconder, por que as coisas são tão secretas?

Do jeito que o mundo está, ou acordamos para proteger nossos filhos das armadilhas diabólicas escondidas no mundo tecnológico, ou vamos sentir um gosto amargo na boca ao cairmos resignados diante do próprio fracasso em criar filhos tementes a Deus.

E não é nem apenas questão de confiar ou não na meninada. É, na verdade, uma questão de defendê-los da podridão que está espalhada por aí. Você já viu como é fácil e rápido acessar sites com conteúdo pornográfico, nazista, de violência, contra a família e até contra Deus?

Há adolescentes e jovens que passam noites inteiras diante da tela da Internet. Alguém aí acha que eles estão fazendo pesquisa escolar? Há adolescentes que passam horas e horas conversando no Messenger ou canais do tipo. Há algum ingênuo pensando que só gente bem intencionada está plugada com eles?

Não podemos subestimar as artimanhas do inimigo das nossas almas e, por que não dizer, inimigo dos nossos filhos? Um lar cristão não pode possuir fronteiras de privacidade, ao ponto de oferecer liberdade ilimitada para acessar qualquer coisa. Em um lar cristão haverá respeito à privacidade, mas isso virá depois da transparência, da abertura para falar e tratar de todos os assuntos e da confiança conquistada. O amor não descuida. O amor de verdade será sábio e atento para proteger aqueles a quem amamos e que acabam sendo as maiores vítimas de tudo isso.

O mundo conspira, de maneira muito organizada, contra essa geração jovem. Eles desejam o coração dos nossos filhos. Se, fazendo o que é certo, tomando todos os cuidados quanto for possível, as coisas já não são fáceis, imagine se deixarmos nossos filhos à sua própria mercê.

No final das contas o Antigo Livro de Deus está mais uma vez com a razão: “A criança entregue a si mesma, envergonha a sua mãe”. Os filhos adolescentes ou jovens até, podem demonstrar responsabilidade e confiabilidade, mas não podem ser deixados à própria sorte, pois ainda não são totalmente independentes. Até que deixem o lar para assumir vidas independentes, são responsabilidade dos pais. E essa responsabilidade é intransferível. Só para lembrar, quem vai requerer essa prestação de contas é o próprio Deus. Eu sei que você sabe, mas eu vou lembrá-lo: Cuidar, acompanhar, corrigir e disciplinar, são todas manifestações que brotam da mesma fonte: o amor.

por Clóvis Jr.