Sinal de vida

Você já passou os dias pensando em alguém? Imaginando o momento que terá alguma notícia? Já ensaiou o que dizer? Teve medo de parecer ridículo? Correu quando o telefone tocou? Desejou inocentemente por um sinal de vida e quando isso aconteceu percebeu que toda expectativa e anseio eram só seus? Tenho vivido uma situação assim e ela é desanimadora. Muitas vezes não é só em relação a alguém, mas no trabalho: muito esforço e pouco resultado, na família: tanta dedicação e nenhum retorno, na igreja: tantos talentos e nenhuma oportunidade. Trata-se de coisas tão simples: reconhecimento, cuidados, proteção, mas num mundo egoisticamente educado, tudo que temos são olhos virados para os próprios umbigos, voltados para as circunstâncias e para alguém como eu que só desejava uma palavra de afeto. Explode, então, a bomba da decepção.

Um dia uma mulher estava com problemas. Sua filha estava endemoninhada. Ela era Cananéia, estrangeira, e os judeus não a tratavam com muito respeito, mas ela precisava de atenção, e escolheu a pessoa certa para dar isso a ela. Quem sabe ela não esteve esperando durante todo o dia o momento em que poderia falar com Jesus, ouvi-lo. Vendo as pessoas dizendo que ele estava a caminho, no bairro ao lado, e quando finalmente Ele estava tão próximo que sua voz podia alcançá-lo, ela foi até a Ele. Diz a bíblia que ela não foi muito bem recebida: “Contudo ele não lhe respondeu palavra. Chegando-se, pois, a ele os seus discípulos, rogavam-lhe, dizendo: Despede-a, porque vem clamando atrás de nós” (Mateus 15: 23). Imagine como se sentiu a mulher que durante todo o tempo esperava ouvir algo e tudo que ela teve foi o silêncio (eu sei bem o que é isso)! Entretanto, Jesus não permitiu que a despedissem. “Respondeu-lhes ele: Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel” (v. 24), apesar da mulher ser Cananéia, Jesus já a considerou casa de Israel, parte do seu rebanho, e ela por sua vez nem se preocupava com quem ela era, mas sim com quem ela estava falando e prosseguiu em sua busca por atenção e pediu socorro a Jesus.

Meus amigos, durante muito tempo achei que Jesus nesta parte da bíblia tinha sido muito cerviz, mas hoje ao ler essa passagem percebi que Ele nada mais fez do que tratar da alma dessa mulher. “Então veio ela e, adorando-o, disse: Senhor, socorre-me. Ele, porém, respondeu: Não é bom tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos.” Que resposta intrigante! Jesus simplesmente estava comparando aquela mulher aos cachorrinhos. Qualquer ser humano com um pouco de amor próprio não suportaria essa comparação, mas aquela mulher estava diante de Jesus despida de si mesmo, sem ego, sem buscar reconhecimento, nada ela queria para si mesma, tudo que ela ansiava era por atenção, era ser ouvida. Naquele momento ela tinha o Senhor dos Senhores diante da sua face, e pouco se importou com o que foi comparada, pelo contrário, usou de sua pequenez para demonstrar sua imensa fé: ”Ao que ela disse: Sim, Senhor, mas até os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus donos” (v. 27).

Esse tipo de coração derrete o coração de Jesus. Uma necessidade tão intensa de sua atenção que todo o resto passa a ser sem importância. “Então respondeu Jesus, e disse-lhe: ó mulher, grande é a tua fé! Seja-te feito como queres. E desde àquela hora sua filha ficou sã” (v.28). Jesus admirou-se com aquela mulher e ela recebeu bem mais do que a cura de sua filha, ela foi curada de si mesma, do seu próprio ego.

Sabemos o quanto é difícil não recebermos o retorno que esperamos, nenhum reconhecimento, nenhuma ajuda, nem ao menos palavras de carinho, entretanto, devemos buscar a atenção de quem realmente valerá a pena. Deixemos o nosso ego, os homens, as coisas deste mundo e corramos para perto dEle. Aquela mulher entendeu isso e provou a sensação de ver o Mestre parar e se virar pra ela e, ao invés de se surpreender com Ele, Jesus é quem se admirou dela. Paremos de perder tempo, corramos para surpreender o Mestre!

por Érika Silva Santos