Vivo ou morto?

A polícia japonesa está investigando a morte de um idoso na cidade de Hyogo, no oeste do Japão. Não seria um caso muito complexo, não fosse o fato dos três filhos da vítima terem vivido com o cadáver do pai por pelo menos 10 anos. A polícia encontrou o corpo de Kyujiro Kanaoka sobre uma cama de futon na casa da família. Interrogados, seus filhos – todos na faixa dos 70 anos – disseram pensar que o pai ainda estivesse vivo. A polícia está investigando a causa da morte, mas a julgar pelo estado de decomposição do corpo acredita-se que o homem esteja morto há mais de 10 anos. (Fonte: Terra).

Não sei se você teve a mesma impressão que eu, mas me parece que até os três filhos do cadáver já estavam “mortos” também. Como pode alguém conviver com um morto há tanto tempo como se ele estivesse vivo?

Um pastor amigo (Jease Costa) escreveu um livro a respeito da vida da igreja (Sua Igreja está no Caminho Certo?) e comentou a história da caminhada de Jesus com os dois discípulos na estrada de Emaús. Com grande sabedoria, ele constatou que há cristãos caminhando com o Jesus vivo, como se estivesse morto, como fizeram aqueles dois discípulos chamados “de Emaús”.

É o contrário do que aconteceu na família do Japão. Entretanto, essa notícia me fez pensar que também há muito cristão convivendo com uma fé morta como se estivesse viva. São pessoas que aprenderam a agir com habilidade para apresentar uma falsa espiritualidade e que trafega pelos círculos evangélicos encenando uma aparência de piedade. Alguns, creio eu, até já acreditam na própria mentira. A sua fé está morta, mas agem como se estivesse viva.

Mas como é que sabemos se nossa fé está morta? Bem, a Bíblia responde: “De que adianta, meus irmãos, alguém dizer que tem fé, se não tem obras? Acaso a fé pode salvá-lo? Se um irmão ou irmã estiver necessitando de roupas e do alimento de cada dia e um de vocês lhe disser: “Vá em paz, aqueça-se e alimente-se até satisfazer-se”, sem porém lhe dar nada, de que adianta isso? Assim também a fé, por si só, se não for acompanhada de obras, está morta” (Tiago 2. 14 a 17).

De acordo com Tiago, existe uma fé viva e uma fé morta. E uma fé morta é a que diz “Deus te abençoe”, mas não oferece um prato de comida. Uma fé morta é a que diz “Deus é amor”, sem expressar concretamente esse amor.

Uma fé morta não produz, não doa, não reparte. Uma fé morta não passa de palavras vazias jogadas ao vento. Uma fé morta não produz obediência a Deus.
Uma fé morta descansa muito mais nos instrumentos intermediários para acessar a Deus do que no próprio Deus. A fé morta gosta do louvor, gosta da pregação, gosta do estilo, mas não ama a Deus sobre todas as coisas. Ama os instrumentos intermediários somente até que esses instrumentos comecem a exigir mais comprometimento, mais radicalidade, mais pagar o preço.
Uma fé morta comanda a vida em ponto morto. Sem grandes posicionamentos, sem envolvimentos mais profundos. Sem arriscar o pescoço, sem dar a cara pra bater. Até aparentemente entregam tudo, mas omitem o preço, como fizeram Ananias e Safira (Atos 5:1-11).

Uma fé morta não anseia a santidade. Não produz transformação, não produz correção dos caminhos a seguir. Uma fé morta deixa transparecer santidade, mas esconde um interior apodrecido. Jesus chamou a esses de sepulcros caiados (Mateus 23:27). No ditado popular é “por fora, bela viola, por dentro, pão bolorento”. Uma fé morta é uma fé de aparências, que até pode enganar a muitos, mas não a Deus. A Ele ninguém engana.

Uma fé morta não possui apetite para conquistas no Reino de Deus. É a fé de quem já esqueceu que estamos em guerra contra o mal. Não vê mais o vizinho, o colega de trabalho como alguém que precisa urgentemente de Deus. Não carrega mais folhetos no bolso, não ora mais por alguém. Não trava mais batalhas de oração e ações para alargar as fronteiras do Reino de Jesus.

Uma fé morta já perdeu o prazer da comunhão. Os irmãos se tornaram estranhos conhecidos.

Uma fé morta já perdeu o prazer de estar na presença de Deus. Não diz mais “um dia na Tua presença vale mais que mil em outra parte” (Salmo 84. 10). Não abre mais a Palavra com a sede que se espera de quem já provou um dia da Água da Vida, que é Jesus.

Uma fé morta não produz. Uma fé morta acomoda. Dá conforto. Não mobiliza, não toca, não muda. Uma fé morta faz o coração adoecer e a alma esfriar.

A Bíblia chama isso de “tenho porém contra ti que esqueceste o primeiro amor” (Apocalipse 2:4). A Bíblia chama isso de “desperta, ó tu que dormes, levanta-te dentre os mortos…” (Efésios 5:14). A Bíblia chama isso “porque estás abatida, ó minha alma?(…) espera em Deus…” (Salmo 42:5).

Uma fé morta só pode ser ressuscitada por Deus. Só Ele é capaz de chamar defuntos para fora dos túmulos. Ele está pronto para fazer a Sua parte. A nossa parte é abrir o coração para que Ele tenha liberdade para recomeçar em nós o trabalho que ainda não está terminado.

A fé que crê em si mesma para esse tipo de transformação já está morta mesmo antes de nascer.

Analisando tudo sob esse ângulo, o que você conclui? A sua fé está viva ou morta?

por Clóvis Jr.