Não adianta fugir

“Veio a palavra do Senhor a Jonas, filho de Amitai, dizendo: Levanta-te, vai a grande cidade de Nínive, e clama contra, porque a sua malícia subiu até mim. Mas Jonas levantou-se a fim de fugir da face do Senhor para Társis, para longe da presença do Senhor” Jonas 1.1-3.

Um olhar rápido e panorâmico sobre o livro de Jonas, pode ofuscar a grandeza da mensagem e das lições deixadas por este profeta. Alguns chegam a dizer que dos dezessete livros proféticos, o de Jonas é o menos profético, devido a sua pequenez e obscuridade entre os relatos antigo-testamentários.

Jonas profetizou durante o reinado de Jeroboão II, o rei mais poderoso de Israel, numa época em que a Assíria, país do qual Nínive era a cidade mais importante, era o maior inimigo do povo de Israel, vindo, inclusive, a consquistá-lo em 722 a.C.

O livro de Jonas começa com sua fuga. Podemos conjeturar algumas possíveis razões para a deserção deste profeta.

Jonas odiava os poderosos e ímpios assírios, que eram munícipes de uma cidade arrogante e perversa. Como todo judeu, o sentimento de pureza exclusiva fazia parte do coração de Jonas que se apresenta relutante, egoísta e rancoroso em relação àqueles que o Senhor Jeová decidiu aplicar misericórdia.

Outra razão pontual para o abandono da missão, certamente foi o preconceito fundado em razões de espiritualidade. Jonas se sentia mais puro e como conhecia o coração misericordioso de Deus, não queria admitir que os ninivitas fossem alcançados por essa misericórdia.

Por estas e outras razões, ele resolve fugir. Fugir da “presença do Senhor”. Medíocre tentativa de Jonas, pois o pensamento de Davi demonstra a impossibilidade do desejo deste profeta:

“Para onde me irei do teu Espírito ou para onde fugirei da tua face?” Salmos 139.7

É impossível fugir da presença do Senhor. Você que está lendo esta mensagem, talvez esteja vivendo como Jonas, distante dos planos de Deus, se escondendo da vontade do Senhor ou amedrontado com o que pode acontecer se você se entregar plenamente aos caminhos do Eterno, a verdade que você precisa saber é esta: Todas as vezes que você fugir, Deus te trará de volta ao mesmo lugar de onde você saiu.

Foi assim com Moisés, com Paulo, com Abraão, com Jonas, comigo e certamente será assim com você. Andar fora da vontade de Deus é vaguear erroneamente por caminhos escuros, perder os tempos áureos da vida, se meter em projetos frustrantes, render-se à expectativas e motivações erradas e voltar para o mesmo lugar.

Jonas decide fugir para Társis como se Deus não conhecesse todas as rotas. Os caminhos de Deus permitem que Ele tenha um visão de todos os nossos atalhos:

“Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, os meus caminhos, diz o Senhor. Porque, assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos, mais altos do que os vossos pensamentos” Isaías 55.8,9.

A “engenharia de tráfego” de Deus é perfeita! Ele sabe que em alguns de nossos caminhos haverão enchentes, rios para atravessar e dificuldades afins. Por esta razão ele nos convida para andar nos Seus caminhos, dentro dos Seus planos, pode até parecer mais perigoso, mais distante ou mais cansativo, mas creia, é o melhor caminho.

Outra coisa que me impressiona na fuga alucinada de Jonas, é que durante o percurso para Társis, Deus começa a dar ordens a seres e pessoas e todos obedecem, exceto Jonas.

Deus dá ordem ao vento, aos marinheiros, ao peixe, ao mar e todos obedecem. Jonas permanece relutante, complicado, intransigente. Nem o absurdo natural provocado pelo Senhor, enviando um grande peixe para levá-lo à praia, consegue amolecer o coração de pedra de Jonas.

Os milagres que envolveram a fuga do profeta também não fizeram diferença para os sentimentos mesquinhos do mesmo. A salvação dos marinheiros, a conversão em massa na cidade de Nínive, o nascimento do arbusto, o desaparecimento do arbusto, etc. nada fez Jonas mudar de idéia.

Isso está refletido em nossos dias e é chamado pelo escritor Ruben Amorese de “Síndrome de Jonas”. E estamos sendo dominados por ela em nossa vida pessoal, em nosso relacionamento com Deus, em nossas igrejas, enfim.

Sintomas da Síndrome? Fugimos a todo instante. Buscamos intensamente aquilo que nos dá prazer e satisfação, sem nos importar qual seja a vontade de Deus, alimentamos nossos preconceitos religiosos e denominacionais a todo instante, oramos o que não sentimos, assim como Jonas fez nos interior do peixe, e achamos que Deus se engana com o nosso coração podre, hipócrita e leviano.

Além disso, negamos nossa fé Naquele que nos chamou, e dormimos no barco da vida enquanto as pessoas em nossa volta lutam desesperadamente buscando uma forma de não serem tragadas pelo mar violento desta vida.

E o pior de tudo, recusamos a misericórdia de Deus em nós e nos outros. Observe as palavras de Jonas:

“E orou ao Senhor e disse: Ah! Senhor! Não foi isso o que eu disse, quando estando ainda na minha terra? Por isso, me preveni, fugindo para Társis, pois sabia que és Deus piedoso e misericordioso, longânimo e grande em benignidade e que te arrependes do mal” Jonas 4.2.

Jonas parece repreender ao Senhor por Ele ter agido com benevolência para com os ninivitas.

Francamente, Jonas me parece alguns crentes da minha igreja que acham seus costumes formam fatores sine qua non para salvação, que colocam em xeque a entrada no céu das pessoas que não participam da mesma opinião, que querem impor regras à manifestação da graça de Deus, ignorando o que foi dito pelo apóstolo:

“Pois a graça de Deus se manifestou, trazendo salvação a todos os homens” Tito 2.11.

Se parece com alguns pastores, que criam regras e regulamentos na intenção de fazer valer suas idéias e ignoram completamente o entendimento sadio e correto das sagradas escrituras, levando o povo à ignorância e a uma escravidão em nome da fé.

Jonas se parece muito comigo, um sujeito complicado, relutante ao ouvir uma determinação divina, que não consegue se entregar à vontade soberana de Deus, unicamente por falta de fé, de se desprender intelectualmente e acreditar que Aquele que comissiona e convida é responsável pelos resultados. Eu me vejo na figura de Jonas como um profeta medroso, um crente inconstante e um apóstolo intransigente.

Apesar de tudo isso, há em Jonas uma solução para tudo isso, veja o que Deus disse a Jonas:

“E não hei de eu ter compaixão da grande cidade de Nínive, em que estão mais de cento e vinte mil homens, que não sabem discernir entre a sua mão direita e a sua mão esquerda, e também muitos animais?” Jonas 4.11

A bondade de Deus para aplicar misericórdia, independe da vontade ou do sentimento de outras pessoas. Não importa com quem você se identifique nesta história, se com os ninivitas, ou com os marinheiros desesperados ou com o profeta fujão. Não adianta fugir. A graça de Deus te alcança onde você estiver e a vontade dele se cumpre seja onde for!

Sujeitemo-nos, portanto aos desejos de Deus, expressos na sua palavra, compreendendo que a sua vontade é sempre boa, perfeita e agradável.

Que o grande Rei te abençoe.