O negócio é ficar?

Ele era um “gatão” – bonito, atlético, inteligente. Mesmo que ele ainda não fosse crente, Lígia já o convidara para a reunião da mocidade. Todas as amigas ficaram com inveja. Todas, menos uma. Kátia, sua melhor amiga, não acreditava que Lígia havia voltado atrás na sua decisão de não entrar na onda de “ficar”. “Lígia, o que aconteceu?” ela interrogou. “Você disse que não queria envolvimento físico com um rapaz antes de assumir um compromisso sério. Você não é a mesma pessoa que antes…”

“Cai fora, Kátia. Nesses dias não dá pra gente resistir. Todo mundo faz. Você está com inveja porque eu consegui o Roberto. Hoje, o negócio é ficar.”

“Ficar” é um dos fenômenos mais recentes entre a juventude brasileira. Embora o “namoro de praia” não seja novidade, esta nova onda social atinge muito mais adolescentes e jovens, e constitui um perigo ainda maior.

O que significa “ficar”? Uma reportagem da Veja (13 de junho, 1990) entitulada “O Negócio é ficar” o descreveu assim:

“Ficar… transformou-se na definição de um pré-namoro, em que apenas abraços e beijinhos não têm fim… mas isso não significa que exista um compromisso entre os que ficam.”

Em outras palavras, quem “fica” entra num relacionamento que inclui (e normalmente enfatiza) envolvimento físico sem nenhum compromisso a longo prazo.

Em pouco mais de cinco anos, a onda de “ficar” tem atingido uma grande porcentagem da nossa mocidade. Mas poucos têm avaliado “biblicamente” o que gosto de chamar de “ficação”. Para o jovem cristão, o negócio é ficar? Creio que a resposta é: NÃO!! Além disso, creio que “ficação” é mais uma tentativa de Satanás para minar a pureza moral da nossa juventude, neutralizar seu testemunho, e, eventualmente, estragar seus futuros lares.

Existem pelo menos duas razões bíblicas porque o jovem cristão não deve seguir a moda de ficar:

1) Amizade bíblica implica em compromisso. O livro de Provérbios esclarece a natureza da verdadeira amizade: ela exige constância (Pv 17:17; 18:24), lealdade (17:10), e compromisso (17:17).

Não é influenciada pelo “exterior”… “como bens materiais e aparências (19:4,6,7; 14:20,21). Sempre pensa no bem estar da outra pessoa, não na sua própria gratificação, e não mede esforço para provocar melhoras no caráter da outra pessoa (27:17; cf 27:5,6). A amizade verdadeira segue o padrão de amor de ICo 13:4-8, não sendo egoísta, mas sempre oferecendo.

2) Biblicamente, o envolvimento físico legitimo entre duas pessoas sempre exige compromisso sério, especificamente casamento. A união física de duas pessoas reflete uma aliança (compromisso) entre elas (Pv 2:17; Ml 2:14; Gn 2:24). Deus criou as expressões físicas de amor e intimidade como uma “escada biológica”. No plano de Deus cada degrau da “escada” leva naturalmente para o próximo, até alcançar o “topo”, a consumação sexual. Deus deixa bem claro que esta experiência se reserva para casais casados (Hb 13:4).

Mas deve-se perguntar se um casal tem o direito de subir qualquer degrau da “escada” quando não há compromisso, seriedade e intimidade interior nos níveis social, emocional, intelectual e espiritual.

ITs 4:3-8 adverte contra o uso do corpo para satisfazer desejos impuros de uma forma egoísta. A exploração do corpo de uma outra pessoa barateia tanto a pessoa quanto o propósito de Deus. Na Bíblia isso representa, na melhor das hipóteses, falsidade e hipocrisia, e na pior, fornicação e prostituição.

Além destas razões, existem algumas conseqüências sérias de “ficar”. Mais uma vez, descobrimos como Satanás tem enganado a muitos para pensarem que “ficar” não faz mal. Vários jovens já afirmaram para mim que as seguintes conseqüências são realidade em suas vidas:

1) Você ganha uma “reputação” (cf. Pv 5:3,5; 7:5-13). Todos os colegas sabem quem “fica” e quem não “fica”, quem está “disponível” e quem não. Conforme a reportagem da Veja, os próprios jovens ainda policiam as meninas que “ficam demais”. E “as garotas ainda temem ser mal compreendidas pelos rapazes.” Isso porque sabem que os meninos falam.

2) Você perde seu testemunho (Mt 5:13). Muitos jovens “ficam” porque dizem que “todo mundo faz”. Mas a Palavra de Deus nos adverte contra sermos conformados com este mundo (Rm 12:2). Ter testemunho implica em ser diferente! O sal que perde seu gosto não vale para mais nada. Onde estão os jovens de garra e fibra como José e Daniel, que resistiram a tentação no poder do Espírito?

3) Você se sente sujo, usado e culpado (Pv 5:10-13). O jovem em Provérbios 5 reconhece sua insensatez em não dar ouvidos para seus pais e conselheiros. Pena que foi tarde demais. Tenho falado com muitos jovens que se sentiram explorados pelo “ficar”. A Veja citou um psicólogo que afirmou sobre o “ficar”: “Nem tudo está perfeito. As meninas ainda têm culpa e os rapazes não estão acostumados a simplesmente ficar… Isso que dizer que os próprios jovens acabam se confundindo… ficando com um no sábado e com outro no domingo.”

4) Você inicia um processo de dessensibilização e frustração. O jovem que “fica” corre o grande risco de não poder parar na subida da “escada biológica”. Os beijos levam para abraços, e os abraços para as carícias. Ficar parado é cada vez mais difícil, pois as “coisas velhas ficam para trás”. Ouça alguns comentários de jovens entrevistados pela Veja: “Nada é melhor do que transar com quem e quando se quer…” “Ficar é ótimo, porque tenho sempre uma companhia diferente. Além disso preciso aproveitar agora que as meninas estão mais liberais…” “Sexo, para quem fica não é mais indispensável. Pode-se praticá-lo ou não, depende da vontade…” Mas para o jovem cristão que “não tem vontade”, ainda pode gerar frustrações interiores que levam a pensamentos impuros, o uso da pornografia e a masturbação. Mas Deus não nos chamou para estas coisas, e sim para “santificação e honra” (ITs 4:4).

5) Você estraga relacionamentos no corpo de Cristo (ITs 4:3-8; Mt 5:23-26). Uma das conseqüências de relacionamentos íntimos “baratos” é que eventualmente a maioria são desfeitos. Mas, muitas vezes, isso leva a ressentimentos, mágoas e ódio. Nossas igrejas estão cheias de jovens e adultos feridos por outros membros do corpo para quem não podem nem se olhar, embora uma vez fizeram muito mais que isso. Fica quase impossível voltar à “estaca zero” de “amizade inocente” quando já trocaram intimidades. O padrão bíblico é de restaurar estes relacionamentos através do perdão. Mas a medicina preventiva da Palavra é nunca ofender o irmão desta maneira. Provérbios diz: “O irmão ofendido resiste mais que uma fortaleza; sua contendas são ferrolhos dum castelo” (18:19).

6) Você cultiva um egoísmo que pode minar seu futuro casamento. Pessoas que “ficam” aprendem padrões de auto-gratificação, de exploração, e de falta de disciplina moral que no mínimo complicarão seus futuros casamentos, e que poderão facilmente levar à infidelidade conjugal. Isso porque o “ficar” enfatiza os meus desejos, as minhas necessidades, o meu prazer. E depois do casamento? O que impede que estes mesmo padrões continuem? Adquirir um padrão de comportamento egoísta é outra conseqüência de “ficar”.

As pressões para “ficar” são muito grandes. Mas, pela graça de Deus, o jovem cristão pode resisti-las. O que acontece se alguém já ultrapassou os limites estabelecidos por Deus? Mesmo que alguém já tenha “pisado na bola”, a graça de Deus não têm fim (Lm 3:22-23). Hoje pode ser o primeiro dia do resto da sua vida – um novo começo. Pela Sua graça colheremos os frutos de uma consciência limpa, de amizades profundas, e lares felizes. Estas são conseqüências que realmente valem a pena buscar, resistindo às tentações e às pressões para entrar em relacionamentos superficiais e exploradores.

O negócio é “ficar”? Creio que para o jovem cristão a resposta é não. Para o cristão, “ficação” é mais uma ficção de Satanás.

por David Merkh