Um homem cheio de compaixão

“Anunciaram-lhe que passava Jesus, o Nazareno. Então, ele clamou: Jesus, Filho de Davi, tem compaixão de mim!” Lc. 18.39.

Compaixão. Durante alguns dias a palavra ficou gravada na minha mente, não consegui pensar em outra coisa. Era impressionante a força com que esta palavra foi cunhada nos meus sentimentos me levando a visualizar nela a atitude de Jesus em relação às pessoas e suas necessidades, a forma como Ele reagia às abordagens e suas soluções sempre amáveis e impregnadas de piedade.

Na verdade, piedade é o que se traduz de oikteirõ, a palavra grega correspondente de compaixão. É ter piedade, um sentimento de aflição pelas adversidades dos outros. É exatamente o que o Nazareno sentia. Ele não se movia do lugar quando sentia isso.

Lembram-se da mulher do fluxo de sangue? Mesmo estando a caminho de uma emergência, a filha de Jairo estava quase morta quando o Mestre pára para compadecer-se da pobre mulher. Assim foi com a viúva de Naim que recebeu seu filho de volta no instante em que o levava a sepultura.

É sempre assim, sem uma programação rigorosa, nunca premeditada e sempre com a intenção de consolar ou melhorar a situação das pessoas. Muito maior que emoções de piedade e simpatia, era a ação do próprio Deus no momento que alguém precisava mudar de vida.

Note que o cenário muda, os personagens se diferem, as palavras não são as mesmas, mas Jesus parece seguir um roteiro de ação quando sente compaixão por alguém:

1. Ele sempre pára

É quase uma regra: Ao sentir que sua personalidade compassiva está sendo afrontada por alguma situação de sofrimento ou tragédia Ele não consegue se mover. A impressão que tenho é que as forças que movem seu espírito furtam a mobilidade de suas pernas e não tem outra alternativa. Ele pára.

Parar é o mesmo que se importar, notar que algo de anormal está acontecendo e sentir incapaz de passar por aquele momento sem fazer alguma coisa.

Ao cego de Jericó, ele proporcionou essa parada com tom de encontro:

“Então parou Jesus e mandou que lho trouxessem.” Lc. 18.40.

O objetivo maior do Galileu ao parar, é exatamente proporcionar o encontro. Enquanto estamos distantes, nada poderemos receber e nem oferecer. E o melhor de tudo: os encontros com Ele são sempre marcantes.

Quando do encontro com Zaqueu ele peticionou:
“Zaqueu, desce depressa, pois me convém ficar hoje em tua casa.” Lc. 19.5

O Mestre amado queria com aquele encontro, conhecer Zaqueu de perto, estar na privacidade e na intimidade dele, conhecer seus desejos e opinar nas suas escolhas, alimentar-se com ele, conhece-lo por dentro. É para isso que o Senhor pára. Imagino que Ele esteja bem ao seu lado agora.

Pensemos na parábola do bom samaritano em que um desconhecido à beira do caminho, sem identidade definida, e num lugar que oferecia risco aos viajantes pela presença dos ladrões e assaltantes. Os prudentes passavam e não tomavam nenhuma atitude, mas o compassivo parou:

“Certo samaritano, que seguia seu caminho, passou-lhe perto e, vendo-o, compadeceu-se dele.” Lc. 10.33.

O homem não conseguiu sair do lugar sem fazer alguma coisa. É assim que o Senhor se comporta quando te encontra ferido, magoado, sem forças, lesado pelos assaltos e situações da vida: Ele pára, ele se importa, não simplesmente vê e prossegue seu caminho lamentando a queda de um amigo ou de um filho. Ele se detém.

2. Ele sempre ouve

Ao ver e parar, a ação é continuada, a preocupação Dele não se acaba e Ele ouve. Ouve com carinho e atenção.

O mais importante na nossa caminhada, é perceber o momento em que Jesus pára. Vivemos agitados com tanta coisa, nos estressamos, deprimimo-nos, vivemos tão alheios às realidades espirituais que raramente percebemos a presença do Senhor ao nosso lado. Que triste! Foi o que aconteceu com seus discípulos após a ressurreição:

“Aconteceu que, enquanto conversavam e discutiam, o próprio Jesus se aproximou e ia com eles. Os seus olhos, porém, estavam como que impedidos de o reconhecer.” Lc. 24. 15,16

Quantas vezes temos o privilégio de ter o Mestre caminhando ao nosso lado, pronto a ouvir nossos reclames, nossas necessidades e não reconhecemos que é Ele realmente nosso ouvinte naquele momento.

Pior que isso, é quando estamos desfrutando da atenção de Jesus e ao invés de falar com Ele, murmuramos com nossos amigos, usamos de um léxico ofensivo para com nossos irmãos, evitamos orar e acabamos por perder grandes oportunidades de diálogos marcantes com o Salvador!

Mas tenha a certeza de que nos momentos da vida em que a solidão bater e o coração se fender como a terra em que se abrem sulcos para o plantio, você pode contar com a atenção de um Deus que se compadece, não foi o que Isaías profetizou?

“Acaso, pode uma mulher esquecer-se do filho que ainda mama, de sorte que não se compadeça do filho do seu ventre? Mas ainda que esta viesse a se esquecer dele, eu todavia, não me esquecerei de ti.” Is. 49.15

Nos momentos em que buscamos alternativas desesperadas, sozinhos e desmotivados, Ele aparece e nos ouve. Conte tudo a Ele, abra o coração e não esconda nada, absolutamente nada. A próxima atitude Dele, depende do que você vai faze-lo ouvir.

Existem momentos em nossas vidas, em que tudo o que precisamos é de alguém que simplesmente pare e nos ouça. Temos inquietações e angústias que só se resolvem quando conversamos com alguém.

Jesus sabia muito bem disso e entendia que os problemas físicos das pessoas lhes causavam perturbações de espírito e peso na alma. Por isso ele as ouvia.

Estou me lembrando de um cântico que cantamos na nossa igreja que ilustra muito bem o que falo. Se você souber, cante em voz alta para seu coração ouvir:

Conta pra Jesus
Onde é a tua dor,
Ele é o remédio
Confia no Senhor.
Não te desanimes
Tome a tua cruz,
O que tu precisas
Conta pra Jesus.

Pode falar com a certeza de que Ele sempre ouve! Aleluia!

3. Ele sempre fala

Quando Jesus se compadece, ele fala. Foi assim com os discípulos a caminho de Emaús:

“Então lhes perguntou Jesus: Que é isso que vos preocupa…?” Lc. 24.16

Sempre que Ele falava compassivamente, não era com o objetivo de confrontar, revelar fraquezas, desmotivar ou simplesmente mostrar superioridade. Ele falava para resgatar pedidos no mais profundo da alma e fazer subir à boca desejos enclausurados nas inatingíveis dimensões da mente.

Você já deve ter percebido nos exemplos bíblicos que estamos usando, a preocupação de Jesus em tratar com os sentimentos das pessoas, falando-lhes aquilo que atinge a alma. A palavra é assim:

“Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração.” Hb. 4.12

Você já viu algum antidepressivo mais eficiente? Algum psicólogo com técnica semelhante? Conselheiro com palavras tão fortes? Aqueles que tiveram a honra de ouvi-lo pessoalmente, testificaram pasmados:

“Responderam os guardas: Jamais alguém falou como este homem.” Jo. 8.46

A fala Dele é marcante, impactante, salvadora. Tira a reação de quem ouve. Isso é maravilho, porque quando o ouvimos e ficamos impossibilitados de agir, Ele age por nós. Glórias a Deus!

Depois de despedir de Jesus, os discípulos do caminho de Emaús fizeram o seguinte comentário:

“E disseram um ao outro: Porventura, não nos ardia o coração, enquanto ele, pelo caminho, nos falava?” Lc. 24.32

Prepare-se para ouvir Deus falar com você. Depois que seu coração arder, você nunca mais será o mesmo.

4. Ele sempre age

“Assim como desce a chuva e a neve dos céus, e para lá não torna, mas rega a terra, e a faz produzir e brotar, e dar semente ao semeador, e pão ao que come, assim será a palavra que sair da minha boca: Ela não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz, e prosperará naquilo para que a enviei.” Is. 55.10,11

Se após parar e ouvir, Ele fala, suas palavras devem produzir algum efeito prático para quem está ouvindo.

Esta foi minha grande dificuldade durante um período da minha carreira cristã. Eu não conseguia compreender como as palavras de Jesus, transmitidas pela bíblia sagrada poderiam atingir a minha vida e alcançar as minhas necessidades.

A verdade maior é que eu me sentia distante da realidade das palavras de Jesus. Não conseguia aceitar que palavras ditas a tanto tempo e em uma realidade tão distinta da minha, poderiam fazer sentido para minha vida. Eu não havia ouvido a voz do nazareno.

Até que um dia percebi que ver e ter Deus agindo na minha vida, ia muito além que simplesmente ouvi-lo ou entender o que está escrito nas páginas da bíblia. É necessário desenvolver uma situação de entendimento entre quem ouve e quem fala.

Entendamos: Como agirá o Senhor, se eu não estiver de acordo com o que Ele diz? Estarei simplesmente bloqueando as possibilidades de ação do Eterno. Deus nunca imporá sua vontade sobre mim, nunca me obrigará fazer alguma coisa por ele.

Quando as palavras de Cristo penetram o coração, elas per si produzem resultados que agradam ao Senhor, Ele é a própria palavra em ação.

Leiam comigo João 1.14:

“E o verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória como do unigênito do Pai.”

Duas expressões demonstram o poder da ação de Deus por meio de sua palavra:

a) “O verbo se fez carne”. A raiz grega da palavra é o logos que denota a “expressão do pensamento”. Se você ler os versículos anteriores ao 14, perceberá que o “verbo”, é, maravilhosamente, a concretização da vontade de Deus em se tornar Emanuel: Deus entre os homens.

b) “Vimos a sua glória”. É a humanização da Shekinah que realizava os milagres do antigo testamento, que dava autoridade aos profetas, que ungia reis, que capacitava sacerdotes. A glória de Deus é a sua própria ação no meio da humanidade.

Isso revela que Jesus sempre agirá quando estiver presente. A sua presença já é uma atitude de Deus em favor dos homens.

Sempre ao perceber que Jesus está por perto, num momento que você estiver precisando de um favor Dele, não deixe a oportunidade passar. Fale com Ele o que você sente e deseja, mas fale com sinceridade e sem reservas. Ouça o que a sua palavra diz e siga com amor no coração e prepare-se para ser “vítima” da ação poderosa e magnífica do Senhor na sua vida.

Que o grande Rei te abençoe.