Milagre no cemitério

É madrugada de domingo, os primeiros raios de luz surgem por traz da montanha. É bom ver a luz depois de um sábado tenebroso, um sábado de silêncio e lágrimas, o dia em que a inspiração cessou, em que grandes compositores como Maria, por exemplo, não teve o que cantar, o que celebrar. Um dia que as penas dos autores mais inspirados não escreveram nada, nenhum verso, nenhum capítulo, nenhuma palavra. Aliás, os homens tiveram muito que escrever a respeito de Jesus durante sua vida. Disseram que era um profeta, um carpinteiro, um endemoniado, escreveram em grandes letras: Este é Jesus o Rei dos Judeus. Mas a única coisa que não tiveram tempo de escrever foi: “Aqui jaz o corpo de Jesus”.

Os quatro evangelhos descrevem em detalhes a ressurreição de Jesus. Esta é a segunda vez que Jesus, o autor da vida, e o cemitério – a prova da morte – se encontraram. Em ambas, a vida triunfou. O que me impressiona, todavia, é que mais enterrado e atado que Lázaro, estava a esperança das duas irmãs; muito maior que a pedra na porta do túmulo de Jesus era o desespero que sepultara a esperança no coração de Maria Madalena.

Você já deve ter se sentido assim. Quando o último fio de esperança parece ter sido sepultado em um túmulo inatingível, quando a única coisa a ser feita é ornar o túmulo, lembrar-se de como você era feliz, celebrar as glórias passadas da esperança e chorar desesperadamente de saudades dela. No relato dos Evangelhos Maria responde três perguntas que muito pode nos ensinar:

1 – A quem procuras? Jo. 20.15

Maria estava buscando a pessoa certa no lugar errado. Talvez tivesse se esquecido que Jesus é a ressurreição e a vida que Ele morreu “para nos libertar da escravidão do medo da morte” Hb. 2. 14-15. Não temos nada mais no cemitério, não há o que procurar lá. Se queres encontrar a minha esperança não a procures no túmulo, mas sim, no céu. Como escreveu John Piper: “A pessoa que realmente pode dizer como o Apóstolo Paulo: “Morrer é lucro” será capaz de dizer como ninguém mais: “Viver é Cristo” Fp. 1.21.

2 Por que buscais entre os mortos ao que vive? Lc. 24.5

Isto significa que ela estava buscando a pessoa certa da forma errada. Muitas vezes é exatamente assim que agimos: limitando Deus ao tamanho e poder dos nossos túmulos. Se algum incidente da vida foi tão grande que parece ter enterrado nossas esperanças, quando a pedra colocada à porta do túmulo é tão grande que não pode ser removida, só resta uma coisa a fazer: Erga os olhos e você verá que o nosso Deus se sente bem a vontade ao remover pedras – “um anjo do Senhor removeu a pedra eassentou-se sobre ela” (Mt. 28.2). Para os Filhos de Deus não existe uma lápide: “Aqui jaz a minha esperança”; Mas uma notícia alegre: “Ela não está aqui”.

3 – Por que choras? Jo. 20. 15-16

Considero este um dos pontos mais dramáticos e profundos do relato. Maria estava frente a frente com Jesus e ainda assim chorava desconsoladamente, tudo porque ela estava olhando para a pessoa certa com a perspectiva errada – “pensando ser ela o jardineiro”. Quantos de nós já fizemos isto? Enterramos nossas esperanças e ficamos presos ao cemitério. Cada vez que Jesus se aproximava de nós não víamos nele mais que um jardineiro, ou seja, até confiaríamos nele para ornar e zelar do nosso cemitério, mas, jamais para nos tirar de lá.

Jesus olhou para a mulher e a chamou: “Maria”. O mesmo chamado que Lázaro ouviu, é a voz da vida penetrando os recônditos mais obscuros da morte; é o poder da ressurreição trazendo de volta a esperança das profundezas do túmulo. Quando se ouve esta voz, então passamos a ver Jesus pela perspectiva correta: Jesus não é um jardineiro de cemitério, mas sim, nosso Senhor e mestre.

Esta voz ainda passeia por cemitérios chamando Josés e Marias, Pedros e Tiagos chamando por você, para te libertar do cemitério e lhe dizer: “Vá contar a meus irmãos” Jo. 20.17.