Auto-retrato

Sou um poeta e um pedreiro.
O poeta voa longe, o pedreiro pisa firme e sabe onde.
O pedreiro firma raízes,
Constrói relacionamentos sólidos, concretos;
O poeta admira as pessoas e não permite
Que sejam meras ferramentas, objetos.

O poeta sonha, enquanto o pedreiro vigia.
O poeta analisa o fim da vida, sua fugacidade;
O pedreiro, com a pressa da empreita, trabalha por dia.

O pedreiro sabe que construir a vida é erguer paredes sólidas,
O poeta sabe que para viver a vida
É preciso lidar com situações insólitas.

Um é macho; agüenta o tranco.
Outro; homem sensível às cores…
Que sabe mais, que vai além do preto ou branco.

O poeta sabe o rumo,
O pedreiro o prumo.
O poeta rima,
O pedreiro arrima.
Um dá o tom, o toque,
Outro o reboque.

Não se opõem, se completam na construção da minha identidade!
Ser um, e não ser outro, seria me perder
No íngreme e confuso caminho, de ser um homem de verdade.

Para ruminar vida afora:

“Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as pratica será comparado à um homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha” Mateus 7:24.