E não é que o mundo acabou mesmo!

Uma grande pedra apresentada em Tabasco, sudeste do México, contendo o calendário maia foi interpretada como um anúncio do fim do mundo marcado para dezembro de 2012. A peça é formada de pedra calcária e esculpida com martelo e cinzel, e está incompleta.

Para os produtores de cinema os fragmentos calcários bastaram para fundamentar o catastrófico “2012” lançado em 2009 com faturamento de 225 milhões de dólares no seu primeiro fim de semana.

Na cultura popular o tal fim do mundo maia causou um rebuliço daqueles! Conhecidos como “preppers” – um neologismo criado nos Estados Unidos a partir da palavra “prepare”, que significa preparar ou planejar em inglês – esses indivíduos se prepararam em encontros e redes sociais, compartilharam técnicas de sobrevivência e alimentaram a paranoia apocalíptica. No Brasil, a cidade de Alto Paraíso de Goiás está rindo a toa: segundo escritos antigos, a cidade estaria a salvo de qualquer desastre natural, como o fim do mundo. Por esse motivo, muitas pessoas de diferentes lugares do mundo, buscam este local para morar, buscando a “salvação”.

E acredite: até mesmo grupos cristãos históricos embarcaram nesta especulação. Alguns pastores aproveitaram a ênfase na temática para instruir suas igrejas sobre temas escatológicos. Outros aproveitaram a especulação para alavancar as conversões em suas denominações (duvido muito da perseverança destes convertidos de ocasião!).

Mas o mundo não acabou. Será?

A civilização maia foi uma cultura mesoamericana pré-colombiana, notável por sua língua escrita, sua arte, arquitetura, matemática e sistemas astronômicos. Divide muitas características com outras civilizações da Mesoamérica, devido ao alto grau de interação e difusão cultural que caracteriza a região. Avanços como a escrita, epigrafia e o calendário não se originaram com os maias; no entanto, sua civilização as desenvolveu plenamente.

Apesar de seu alto grau de desenvolvimento a civilização maia como tal desapareceu completamente. Devastada pelo império asteca por volta do século XV e, finalmente, subjugada pelos espanhóis a partir de 1519, os maias foram reduzidos a tribos segmentadas na américa central.

Os acadêmicos acreditam agora que, entre vários fatores, as doenças epidêmicas foram de longe a maior causa do declínio populacional dos nativos americanos. As doenças começaram a matar imensos números de americanos indígenas pouco depois de os europeus e africanos começarem a chegar ao novo mundo. A escala das epidemias ao longo dos anos foi enorme, matando milhões de pessoas – cerca de 90% da população nas áreas mais atingidas – determinando “a maior catástrofe humana da história, provavelmente excedendo mesmo o desastre da Peste Negra que matou um terço da população da Europa entre 1347 e 1351”.

A doença mais devastadora foi a varíola, mas outras doenças mortais incluíram o tifo, sarampo, a gripe, a peste bubônica, a parotidite (caxumba), a febre amarela e a coqueluche.

Pela guerra ou pela doença, o mundo dos maias acabou. Muito antes do prognóstico do seu calendário a grande civilização se tornou objeto de especulação arqueológica.

Pouco se sabe a respeito das tradições religiosas dos maias: a sua religião ainda não é completamente entendida pelos estudiosos. Como os astecas e os incas, os maias acreditavam na contagem cíclica natural do tempo. Os rituais e cerimônias eram associados a ciclos terrestres e celestiais que eram observados e registrados em calendários separados. Os sacerdotes maias tinham a tarefa de interpretar esses ciclos e fazer um prognóstico profético sobre o futuro ou passado com base no número de relações de todos os calendários. A purificação incluía jejum, abstenção sexual e confissão. Esta purificação era normalmente praticada antes de grandes eventos religiosos. Os maias acreditavam na existência de três planos principais no cosmo: a Terra, o céu e o submundo.

Os maias sacrificavam humanos e animais como forma de renovar ou estabelecer relações com o mundo dos deuses. Esses rituais seguiam ritos rigorosos. Normalmente, eram sacrificados pequenos animais, como perus e codornas. Em ocasiões muito excepcionais (tais como adesão ao trono, falecimento do monarca, enterro de algum membro da família real ou períodos de seca) aconteciam sacrifícios de humanos. Acredita-se que crianças eram muitas vezes oferecidas como vítimas sacrificiais porque os maias acreditavam que essas eram mais puras.

Os deuses maias não eram entidades separadas como os deuses gregos. Também não existia a separação entre o bem e o mal e nem a adoração de somente um deus regular, mas sim a adoração de vários deuses conforme a época e situação que melhor se aplicava para aquele deus.

Podemos tirar algumas lições da história a partir do fim do mundo maia.

(1) Em tempos de progresso as civilizações tornam-se mais antropocêntricas e individualistas. O apóstolo Paulo nos alerta que quanto o homem se torna o fim último de todas as coisas o mundo está mais perto do caos do que da salvação. “Quando disserem: “Paz e segurança”, a destruição virá sobre eles de repente, como as dores de parto à mulher grávida; e de modo nenhum escaparão”. (1Ts 5:3)

(2) O medo do fim do mundo ou do inferno é metodologia evangelística alheia ao Novo Testamento. As pessoas precisam se converter olhando para a Cruz de Cristo e tendo o coração regenerado pela Graça de Deus. Jesus nos ordena a “lembrar da mulher de Ló” (Lc 17:32). A releitura da narrativa em Gênesis (Gn 19:17-26) nos mostra que a esposa de Ló ignorou a urgência da Graça de Deus: “Fuja por amor à vida! Não olhe para trás e não pare…” O verdadeiro evangelismo anuncia a vitória sobre todo o medo (1 Jo 4:18)porque o cerne de sua mensagem está na Providência Graciosa de Deus por nós (Jo 3:16).

(3) A ira de Deus e o inferno são biblicamente inegáveis. Deus jamais anula sua justiça, pois a justiça é um atributo da Sua própria natureza. Não podemos esquecer que somos, por natureza, merecedores da ira de Deus (Ef 2:3), mas que além de Justo, Deus também é misericordioso e “a misericórdia triunfa sobre o juízo” (Tg 2:13). Jesus sofre a penalidade do meu pecado (2 Co 5:21) e satisfaz perfeitamente a justiça de Deus. Através de Cristo, portanto, a misericórdia pode triunfar sobre o juízo (Fp 3:7-9).

(4) Os salvos da ira divina não vivem para aguardar o fim do mundo. “Nós, porém, segundo a sua promessa, aguardamos novos céus e uma nova terra, nos quais habita a justiça.” (2 Pd 3:13) Somos salvos para viver uma vida santa e piedosa aqui neste mundo (11); em paz, imaculados e irrepreensíveis (14).

O mundo maia acabou mas nós estamos aqui, e enquanto aguardamos somos exortados a “viver”: “Não importa o que aconteça, exerçam a sua cidadania de maneira digna do evangelho de Cristo, para que assim, quer eu vá e os veja, quer apenas ouça a seu respeito em minha ausência, fique eu sabendo que vocês permanecem firmes num só espírito, lutando unânimes pela fé evangélica,” (Fp 1.27)