E daí?

Daqui? Daqui vai choro.
Vai medo, insegurança, ansiedade.
Vai muita tristeza, muita dor.

Daqui vai fé também.
Vai porque a gente é desses que creem.
Vai esperança e espera.
Espera por dias melhores.
Espera por ajuda,
Espera por vaga na UTI,
Espera por respirador, por vacina, por testes, por máscaras.
E depois de tanto esperar, espera também o serviço funerário.

Porque daqui vão corpos.
Empilhados, ensacados, isolados.
Corpos que se vão sem velório, sem despedida.
Sepultamentos que não podem esperar
Nem os parentes de longe
Nem os amigos de perto.
Sem missa, coroa de flores, vela ou fita amarela
Daí eles parecem números, mas daqui têm nomes.

Agora sou eu que pergunto:
E daí?

Vem ação? Vem combate?
Vem uma palavra clara e única sobre o que fazer?
Vem cooperação? Vêm propostas?
Vem empatia, condolências, palavras de esperança?

O que vem daí?

O de sempre: bravatas, conflitos, complexo de perseguição.
Mentiras, recuos, trapalhadas, ofensas.
Paranoias, acusações, gritos e sarcasmo.

Daí vão-se os ministros,
Vão-se os técnicos,
Vão-se os dólares e o investimento estrangeiro.
Vai-se o seu apoio; vão os seus aliados.
Até o dia em que vá você também daí.
Porque a verdade é que daqui vamos levando
E daí já não esperamos nada.