Não é tempo de publicar amenidades teológicas

Muitas pessoas, agoniadas com as previsões para as próximas semanas, reprimem todo aquele que não esteja compartilhando mensagens de positividade e espiritualidade terapêutica. Dizem que nessa hora o melhor a fazer é não fomentar o desespero, mas sim publicar mensagens de esperança.

Será mesmo? Construir esperança baseada em pensamento positivo e fé na fé, não é depositar confiança no vazio? O Frejat já cantava “que rir é bom, mas que rir de tudo é desespero”!

Acredito que, uma vez mais, quem viveu em tempos sombrios pode nos ajudar. C. S. Lewis, escrevendo sobre a bomba atômica, diz que situações como as de hoje nos colocam diante de três alternativas: (1) ou minha vida não tem valor, (2) ou devo aproveitar o máximo que conseguir, pois tudo termina aqui, (3) ou devo negar as leis terríveis do universo e ser uma pessoa boa.

De certa maneira, o pensamento não cristão oscila entre o 2 e o 3, mas fazem isso sem esperança também. Isso porque, “há muito pouco para aproveitar — apenas prazeres mais crus. Você não pode, exceto no sentido puramente animal e inferior, amar uma garota quando sabe (e fica lembrando) que toda a beleza física e de caráter dela não passam de um padrão acidental e momentâneo produzido pela colisão de átomos”. Não existe real desfrute quando tudo o que acreditamos se limita ao aqui e ao agora.

O altruísmo da terceira opção também é infundado — e é esse tipo de textinho que as pessoas gostariam de ler. De onde eu tiraria esses valores belos e bondosos para lidar com as pessoas? No fundo, são apenas conexões sinópticas de nosso cérebro que também vai desvanecer no tempo. Se limitamos nossa esperança somente para essa vida, somos os mais miseráveis de todos os seres humanos. Somos seres voltados para a morte, como dizia Heidegger.

Existe, porém, uma quarta opção. Que não é uma amenidade espiritual, mas uma afirmação radical de uma longa tradição teológica cristã. Lewis diz que: “há somente uma forma de evitar esse beco se saída. Precisamos voltar a uma visão muito mais antiga”.

E o que diz essa visão? Ele continua explicando: “precisamos aceitar que somos espíritos, seres livres e racionais, habitando, no momento, um universo irracional, e precisamos chegar à conclusão que não nos originamos nele. Somos estrangeiros aqui. Viemos de outro lugar. A natureza não é a única coisa que existe”.

O desconforto que sentimos diante dos dias que estamos enfrentando, da crueldade da morte violenta e sem sentido, tem que nos ajuda a entender que não podemos limitar nossas alegrias e esperanças à essa natureza. Ou ainda, “se não existe uma linha reta em outro lugar, como descobrimos que a linha da natureza está torta?”.

Nada tem mais potencial destrutivo do que as tentativas de sobrevivência a qualquer custo. Somente aqueles que não tem sua fé e esperança na civilização humana é que têm condições de servi-la da melhor forma. Lewis dizia que “os que mais querem o Céu são os que servem melhor à Terra”. Se encontramos uma carência e nós mesmos que nada nessa vida pode satisfazer, só podemos concluir que não somos daqui. Nesse espanto e maravilhamento mora a esperança da fé!