Minha experiência com a depressão

No último dia 20 de setembro eu tomei com o meu pai a nossa primeira garrafa de vinho após mais de um longo ano de abstemia. Por conta do meu tratamento contra uma depressão moderada, que me desafiou desde 2015, tive que tomar alguns remédios psiquiátricos e estes me proibiram de ingerir qualquer tipo de bebida alcoólica.

Ainda que eu sempre tenha sido muito sonhador e esperançoso, um senso intenso de introspecção e pessimismo também constantemente fizeram parte da minha personalidade melancólica e fleumática. Na virada de 2014 para 2015, uma série de mudanças intensas e profundas me inundaram de uma única vez. Essas mudanças, mesmo sendo muito boas, me exigiram bastante energia mental, o que, somadas à minha personalidade, desequilibraram a química de meu cérebro, desencadeando uma depressão moderada — obviamente, nesse período eu ainda não sabia da causa da minha doença, nem mesmo sabia ainda que estava doente.

Eu me percebi extremamente desanimado e profundamente triste por um período bastante prolongado. Até mesmo as coisas que eu amava fazer, como ler livros, estudar, estar na sala de aula e conversar com os professores nos corredores do Mackenzie, trabalhar, cozinhar e comer, e estar com os amigos me eram um peso amargo demais. Eu não queria mais cuidar da minha aparência. Eu realmente não conseguia mais dormir. Era horrível não conseguir explicar o porquê eu estava tão sumido. Era indescritivelmente desgastante viver uma vida dupla, fingindo que estava bem ao mesmo tempo em que eu tentava ficar realmente bem (sem ter a mínima ideia da razão de estar tão mal).

Em um contexto desses, não é de se espantar que eu tenha nutrido pensamentos suicidas e somado tentativas fracassadas (graças a Deus) de efetivamente acabar com a minha vida. Eu não suportava mais toda essa experiência desgraçada. Eu me sentia infinitamente pior que lixo. Eu me odiava de tal forma que qualquer reflexo que poderia me expor a mim mesmo era coberto por cobertores, toalhas e lençóis. Eu invejava as outras pessoas, pois elas podiam fugir de mim e me ignorar, enquanto eu era obrigado e fadado a me encontrar em qualquer esconderijo para onde eu me retirasse. Eu me bati e me esmurrei, me arranhei, puxei os meus cabelos…

Foi meu professor de psicologia que primeiramente percebeu que havia algo bastante errado comigo. Ao longo de algumas conversas de corredor, ele me diagnosticou com depressão e me serviu, iniciando uma terapia “informal”, ao mesmo tempo em que o meu professor de Teologia Sistemática me acompanhava pastoralmente, em longas e graciosas conversas nas escadarias do Rui Barbosa. Ambos foram indescritivelmente generosos comigo. As coisas melhoraram consideravelmente e, saindo do Mackenzie, não busquei mais ajuda. Achei que estava tudo bem. “Consegui vencer sem ter que admitir publicamente a minha fraqueza”, eu pensava.

Então, em 2018 eu comecei a namorar a Bia. Por volta deste período, os sintomas, que nunca sumiram de fato, estavam se reintensificando. Neste contexto, a Bia teve um papel fundamental no meu processo. Em primeiro lugar, eu fui muito impactado pela forma que ela enfrentava (e ainda enfrenta) as suas dificuldades. Em segundo lugar, eu não queria que os meus problemas respingassem nela por negligência minha. Assim, na virada de 2018 para 2019 eu busquei ajuda profissional e encontrei a Ana, que tem sido um anjo na minha vida.

Após um período de tratamento, em uma conversa totalmente não planejada, contei para os meus pais e para a minha irmã toda essa história. Eles foram extremamente empáticos e carinhosos. Oraram comigo, me apoiaram e arregaçaram as mangas para lutarem junto comigo, assim como a Bia já havia feito antes. Isso me ajudou bastante. Parar de gastar energia, fingindo que estava tudo bem, me ajudou a ter mais forças para realmente ficar bem. Deixar de ser orgulhoso me abriu as portas para ser cuidado de uma forma muito especial.

Para a minha frustração, pouco depois dessa conversa, a Ana me sugeriu procurar também a ajuda de um psiquiatra, pois possivelmente o meu caso exigiria, além da terapia, remédios. Eu não sei compartilhar como ouvir isso me machucou e me derrubou. Ao voltar para casa, fiquei um bom tempo chorando escondido nas escadas do meu prédio. Eu estava sem qualquer força ou coragem de contar para a Bia e para os meus pais que eu era, conforme eu passei a me ver, um caso perdido, sendo o meu último recurso os remédios. Novamente, fui surpreendido. A minha mãe olhou nos meus olhos e me disse: “Lucas, quando estamos gripados, tomamos remédios. Quando alguém está depressivo, pode tomar remédios também. Você deveria ficar feliz pelo fato de existir remédio, não triste. Isso é graça de Deus”. Encorajado com essas palavras de carinho, procurei um psiquiatra.

Encurtando a história, que já está longa, o Dr. Carlos Henrique Costa foi extremamente generoso comigo e me acompanhou de perto. Ele me atendeu com muita empatia, me ouviu, me ensinou e foi bastante acessível em todo o tempo. Uma coisa que eu aprendi com a depressão é que ela é uma doença, apenas uma doença. Além disso, também aprendi que está tudo bem ser fraco e carente de cuidados. Em momento algum Deus nos cobrou conquistas independentes. Muito pelo contrário… A verdadeira força é justamente depender de Deus, e Ele atua, por escolha própria, mediante pessoas. O que me vencia constantemente ao longo de quatro anos, enquanto eu lutava sozinho, foi vencido facilmente em um ano, quando passei a lutar com um exército gentilmente voluntário ao meu lado. Graças a Deus pela vida da minha família, da Bia, dos amigos, da Igreja, da Ana e do Carlos.

Para mim, a foto ao lado é bastante especial. Foi esta garrafa de vinho que meu pai e eu desfrutamos juntos ao fim do processo de cura da depressão. O vinho, biblicamente falando, representa a vida e a alegria. Depois de uma longa e intensa luta, estou apto a novamente desfrutar dessas coisas. Todavia, não me refiro à minha luta contra a depressão. Me refiro à luta de Cristo, que derramou o próprio sangue (que Ele mesmo representou pelo vinho) para que eu fosse vitorioso nEle, por Ele e para Ele. Eu odiei tanto a vida que desejei intensamente a morte. Curiosamente, em Cristo, eu morri de verdade. O que eu não sabia era que, morrendo, eu passaria a viver plenamente.

A garrafa de vinho desfrutada por nós.

Talvez você também esteja lutando contra alguma doença emocional (ou contra qualquer outra dificuldade). Eu quero te dizer que o mesmo Cristo que me salvou pode te salvar também. Você não precisa, e não deve, lutar sozinho. Independência é morte, mas depender de Jesus é mais do que “vida”. É Vida Plena. Eu amo o sabor da vida. Você quer senti-lo também? Ele tem o gosto maravilhoso do Vinho de Jesus Cristo, o Sangue da Nova Aliança. A taça está à mesa. Sirva-se sem moderação.

Lucas Gonçalves
Bacharel em Comunicação Social e em Teologia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, pós-graduado em Plantação e Revitalização de Igrejas pela FATEV-CTPI. Estuda a ética e a moral cristãs em C.S. Lewis e J.R.R. Tolkien, e é seminarista na Igreja Presbiteriana de Paulínia. Lucas faz parte do Coletivo Tangente.