Por que algumas igrejas estão trocando bancos por mesas de jantar?

Uma conversa com o pioneiro da Igreja do Jantar, Verlon Fosner.

Cortesia da Comunidade do Jantar de Bitterlake
A Comunidade do Jantar de Bitterlake em Seattle

Na última década, Verlon Fosner e sua igreja têm promovido reuniões de jantar semanais como o carro-chefe da vida e missão familiar de sua igreja. Estes Jantares Comunitários se tornaram parte de um movimento conhecido como Dinner Church (Igreja do Jantar).

Toda semana eles convidam a vizinhança para uma refeição de quatro pratos. Enquanto jantam juntos, uma equipe lidera o grupo através de elementos litúrgicos cristãos, incluindo música de louvor, arte visual ao vivo e uma breve mensagem. Em meio ao ambiente caseiro da refeição, as pessoas aprendem sobre Deus e aproximam-se umas das outras.

Fosner inaugurou a primeira Igreja do Jantar de Seattle em julho de 2007. Desde então, seis outras Igrejas do Jantar iniciaram na área. Ao mesmo tempo, duas Igrejas do Jantar se formaram em Nova York e na área de Overland Park, em Washington, DC. Fosner estima que, hoje, haja aproximadamente 40 Igrejas do Jantar funcionando no país, vindo mais. Muitas se uniram a uma organização conhecida como Novas Expressões – uma cooperativa de mais de 40 denominações comprometidas em expressar o evangelho de maneiras novas e criativas.

Mas a Igreja do Jantar começou como um fenômeno popular e ainda mantém este caráter essencial. A simplicidade do modelo da Igreja do Jantar faz com que seja fácil de replicar: Sirva um jantar, conduza uma liturgia e converse com as pessoas à mesa.

O movimento não está sem desafios e crítica. Alguns questionaram se a Igreja do Jantar se qualifica como uma forma de igreja biblicamente legítima. Outros se preocupam pela Igreja do Jantar parecer preocupada apenas em atender as necessidades físicas das pessoas. Mas Fosner assegura que a Igreja do Jantar permanece comprometida com a doutrina evangélica e em recontar as histórias de Cristo à comunidade. Em cada encontro, o pastor compartilha uma narrativa do Evangelho de Jesus e faz um apelo para crer nas Boas Novas. Fosner tem visto as multidões em grande parte sem igreja que preenchem os encontros da Igreja do Jantar abraçando a vida e as histórias de Cristo.

Mas Fosner admite que parte da visão da Igreja do Jantar seja um desejo de ver o evangelho tanto como proclamação quanto como engajamento social. Ele defende a “teologia da mesa de jantar de Jesus” que nos remete à igreja primitiva – discípulos e outros se reunindo em volta de uma mesa para celebrar e aprender juntos. Segundo Fosner, a Igreja do Jantar presta muita atenção aos aspectos sociológicos do discipulado – o que significa buscar transformação holística. A Igreja do Jantar se trata de ministrar a toda a pessoa de maneiras tangíveis, não de ministrar apenas à mente.

Nós entrevistamos Fosner para ouvir mais sobre a Igreja do Jantar e como Deus tem trabalhado no movimento e através dele.

Conte-nos rapidamente a visão e a história da Igreja do Jantar.

Como uma igreja de 85 anos no coração de Seattle, com um desempenho fraco mês após mês, nós precisávamos de um jeito novo para permanecer na missão de resgate. Caso contrário, precisaríamos sair da cidade como tantas outras. Esta visão – uma restauração de um jeito antigo de igreja que ressoou com a Seattle cosmopolita – veio em um momento quando realmente precisávamos. Quando começamos com a Igreja do Jantar pela primeira vez, fomos surpreendidos como ela rapidamente começou a se encher de pecadores, estrangeiros e seculares – pessoas cujas vidas, francamente, não estavam indo tão bem, embora nunca houvéssemos visto isso em um encontro domingo de manhã.

Onde você vê impulso bíblico para esta maneira de fazer igreja?

A Igreja do Jantar se trata de restaurar a teologia da mesa de jantar de Jesus que era praticada na era apostólica da igreja primitiva. É difícil encontrar uma menção na Bíblia de cristãos se reunindo sem mesa e comida envolvidas. Muitos de nós não temos levado em conta quão diferente é falar sobre Cristo ao redor de uma mesa em oposição a um ambiente de ensino tradicional. Eles assumiam que Cristo estaria lá na sala. Eles tinham uma sensação da presença divina cada vez que se reuniam.

Por que uma boa refeição é tão atraente para as pessoas?

É a melhor metáfora para o evangelho que encontramos. Colocamos comida abundante e de qualidade porque preferimos mostrar o evangelho a apenas explicá-lo. As pessoas andam na fila e veem mais comida do que podem comer – carnes de todas as cores e formas – e percebem que Jesus pagou por isso. Elas não estão sendo cobradas por isso. Depois, construímos a partir dessas imagens durante a noite. A comida fornece um senso imediato e crítico da abundância de generosidade e cuidado divino com as pessoas.

Como a Igreja do Jantar busca atender as necessidades físicas e espirituais das pessoas?

Começamos cuidando do corpo e dos relacionamentos humanos. Quando nos sentamos juntos – ricos e pobres, pecadores e santos – percebemos que temos pelo menos uma coisa em comum: Todos nós comemos. Um vínculo imediato se forma quando comemos juntos.

Não servimos apenas comida. Convidamos as pessoas para nossa mesa de jantar e então comemos juntos. É uma coisa de família, então não há distinção entre nós e eles. Essa base é necessária quando estamos lidando com pessoas que não têm formação na igreja. Quando você janta com alguém semana após semana, não demorará muito para que a conversa mude da vida para limitações, e depois para alguma forma de espiritualidade. Quando a conversa atinge esse nível, estamos finalmente livres para falarmos de Jesus.

Por três anos, um rapaz com problema com álcool veio para nossos encontros de jantar. A conversa sempre foi superficial com ele. De repente, algumas semanas atrás, ele entrou e disse, “Quero que você se sente perto de mim porque quero conversar sobre cristianismo esta noite”.

Vamos falar sobre a logística da Igreja do Jantar. Como é uma reunião típica?

Nós promovemos jantares por cerca de duas horas, uma noite por semana. Às 17h00, as pessoas começam a aparecer. As mesas são postas, os músicos do louvor tocam alguns belos hinos e outros cantam e artistas desempenham arte visual associada ao tema da mensagem daquela noite. Algumas pessoas recebem a refeição, outras convidam as pessoas para sentar com elas e há muitas conversas, tanto na fila quanto nas mesas. Às 17h30, uma segunda leva de pessoas chegam de seus empregos diurnos, e por volta desta hora fazemos uma breve mensagem sobre uma história de Jesus que termina com uma oração generosa para combinar com a refeição generosa e com um Salvador generoso. As pessoas que serviram então recebem sua comida e se sentam com outras às mesas. A partir de então até o final do jantar, as pessoas se envolvem em conversas, discipulado, aconselhamento e oração com uma pessoa.

Fiquei intrigado com as “formas de carnes” que você mencionou antes. Quais outros itens do cardápio você serve na Igreja do Jantar?

Nossas entradas incluem costeleta de porco fatiada, peito e costela. Servimos batatas, molho e várias saladas de acompanhamento. Pessoalmente meu favorito é a salada de vinagrete de framboesa com nozes cristalizadas e lascas de amêndoas. Nós também sempre fornecemos algum tipo de sobremesa. Nossos jantares são preparados no local ou colocados em caixas térmicas a partir de uma localização central. Também fazemos nossos jantares durante as celebrações sazonais. Criamos um guia com 13 cardápios, completo com instruções para grupos maiores. Todas as refeições são relativamente baratas e um cozinheiro novato pode prepará-las.

Qual é a participação média?

Há sete locais da Igreja do Jantar pela cidade de Seattle que cobre quase todas as noites da semana. A média é por volta de 150 pessoas, com o menor encontro reunindo 60 e o maior atingindo quase 300 às vezes.

Preciso perguntar, como você financia a Igreja do Jantar?

O custo de uma Igreja do Jantar com participação média de 150 pessoas é por volta de $1.600 por mês ($1.200 para comida e $400 para aluguel do local). Nossos pastores são bi-profissionais e recebem até $1.000 por mês de suas igrejas de origem, apesar de alguns não receberem nada. Exceto pelo pagamento em tempo parcial pelo pessoal da igreja de origem, a maior forma de financiamento vem da antiga teologia do “dízimo para a pobreza” de Deuteronômio. É preciso apenas uma pequena equipe principal que esteja dizimando na pobreza para financiar totalmente uma igreja do jantar. Então, colocando um recipiente para ofertas na mesa do buffet, começamos a envolver cada pessoa que vem a Cristo no dízimo. Esse é o grande plano.

Além disso, redirecionamos o campus da nossa igreja para um centro comunitário com uma escola de pré-escola e autismo. Os alugueis gerados pagam por muitos pastores da nossa Igreja do Jantar a $1.000 por mês. Também procuramos maximizar a renda dessa propriedade construindo apartamentos de baixa renda em nosso enorme estacionamento, o que produzirá renda suficiente para abrir todos os 27 locais propostos para a Igreja do Jantar em Seattle. É incrível quanto um decadente campus de igreja pode produzir se o grupo estiver confortável com seu remanejamento para plantação de igrejas.

Do que você mais gosta a respeito da Igreja do Jantar?

Amo ver Jesus movendo, trabalhando e curando – essa sensação da presença de Cristo entre pessoas que você não veria em uma igreja tradicional. Também amo pregar as histórias simples de Cristo para uma sala cheia de pecadores. E amo como tanta alegria entra nos corações dos seguidores de Cristo e samaritanos que aparecem para servir.

ENTREVISTA POR DEREK HIEBERT
Derek Hiebert é diretor do Local de Ensino de Seattle do Seminário Ocidental.

Uma versão deste artigo apareceu originalmente no Guia dos Pastores para Novos Modelos de Igreja, o qual oferece uma visão geral da paisagem rica em modelos do ministério da igreja. Ela pode ser encontrada em BuildingChurchLeaders.com.

Traduzido por Cynthia Rosa de Andrade Marques.
Usado com permissão.