Visão de mundo extremista

Independentemente da orientação político-partidária, o extremismo sempre revela sua incapacidade de mostrar-se uma resposta adequada para os desafios sociais. Um extremista é um ponto de exclamação andando pelas ruas fazendo afirmações que não se sustentam no teste do tempo e do bom senso político.

A notícia da prisão de Sara Winter me fez pensar sobre a dispersão de energia política em um trabalho de fanatismo ideológico. À revelia de sua postura conservadora mais recente (não é esse o ponto que quero discutir), a trajetória de Winter é um exemplo paradigmático de como o extremismo cai em um lugar comum mesmo que ele seja de matizes ideológicas opostas.

Sara fundou a “Femen Brasil” em 2013 e era líder do “300 do Brasil” em 2019. Apesar dela deixar claro que muita coisa mudou em sua vida durante esse tempo — o que eu não duvido — o que não mudou foi sua forma de encarar a política. No feminismo radical ou no conservadorismo armado, a única forma de agir é através das lentes do radicalismo.

Ao que parece, na visão de um extremista não existe gradação. A política é vista como um jogo de soma zero. Ou está conosco, ou está contra nós — e, se está contra, tome cuidado, pois tenho vontade de trocar socos com você e vou infernizar sua vida!

O que não entra na cabeça do extremista é que a realidade social é complexa e qualquer tentativa ideológica de simplificar a ampla rede de relacionamentos sociais é um reducionismo. Não conseguimos responder a microfísica do poder, diluída na sociedade civil, com uma análise polarizada de luta de classe. O desafio é muito mais complexo, multifacetado e exigente do ponto de vista interpretativo.

Para aqueles que ainda acham que não precisamos de mais de teoria social, que bastam homens e mulheres com boa vontade política, fica a lição de Winter (talvez a única genuína contribuição que ela traz para o cenário brasileiro): um indivíduo cheio de boas intenções, motivado (e, por que não, até armado) não é o suficiente para responder aos desafios do bem comum.

Não existe nada mais urgente para a política brasileira do que homens e mulheres que não têm o seu coração seduzido pelo extremismo!